Esta semana vai voar e as próximas também. Estou em vésperas de partir para Paris, ou melhor para Fontainebleau, para o INSEAD, onde vou fazer um curso de empreendedorismo social. Apetece-me muito, muito voltar à universidade. Ainda por cima a esta universidade mítica! Depois volto, fico um par de dias em Lisboa, e volto a viajar mas para o outro lado do mundo. Uma maravilha e um grande presente da vida! Sobre uma e outra viagens hei-de ir dando notícias à medida em que elas acontecerem. Por agora antecipo um tempo sem tempo, em que tenho que deixar muita coisa feita em avanço. Daí a minha aparente ausência do blog... Não desapareci, estou mais uma vez a mil. Mas é 'só' por isto que acabo de contar.
Lisa, num intervalo entre as aulas de Pilates, a tratar das marcações para os próximos dias. Voltei ao Estúdio Pilates da Filipa Mayer, onde já andei há uns anos atrás. Passo a vida a inscrever-me e a desistir, mas sempre a tentar conseguir. Não tenho rotinas previsíveis e se, por um lado, isso é emocionante e faz toda a diferença na minha vida (cada dia pode ser uma surpresa no sentido literal), por outro é tramado porque me impede de cumprir horários em matéria de lazer. Os meus compromissos são tão diferentes de dia para dia que nunca sei como será a próxima semana. Daí a minha dificuldade em criar certos hábitos, e em permanecer fiel a certas rotinas, especialmente no que diz respeito ao exercício físico. Enfim, tudo isto para dizer que recomecei hoje e espero poder manter-me neste estúdio por longo tempo. Gosto muito do método e das professoras. E adoro a onda, a luz, a música, o jardim de buganvílias e a tranquilidade deste estúdio.
Poucas cidades no mundo têm ruas de eléctricos e menos
ainda têm subidas e descidas íngremes, de calçada com
carris, por onde descem e sobem elevadores amarelos...
A Rua do Elevador da Bica é um acontecimento quotidiano.
Nesta rua há pessoas com quem nos cruzamos todos os
dias e o carteiro é uma delas. Este e outros carteiros andam
pela calçada com o seu carrinho de rodas cheio de cartas e
encomendas. Um dia vi este homem devolver 50 euros que
lhe tinham pago a mais. A integridade revela-se desta forma.
Adoro as horas de estudo de piano e as rotinas diárias de
uma casa vivida onde cada coisa tem o seu lugar, cada um
tem o seu espaço e as coisas acontecem com naturalidade.
Às vezes fico calada de frente para as minhas janelas a ouvir
os sons cá dentro e os barulhos lá fora. Ou a acompanhar o
voo das gaivotas e o movimento das pessoas ao fundo, nas
ruas de degraus de pedra. Gosto da vida das cidades e de ver como
as coisas acontecem. Fascinam-me os detalhes e prendem-me os
gestos. Ouço frases que foram ditas e ficam a fazer eco como se as
ouvisse de novo. Gosto deste secreto poder da memória, quando traz
de volta alguém ou alguma coisa que apetece reviver. Nos dias mais
difíceis, como estes que agora estamos a atravessar, fico mais calada
e contemplativa. Pergunto-me os 'porquês' e 'para quês' das coisas. Não
encontro respostas evidentes mas apenas pistas, chaves de leitura que
permitem acreditar que um dia tudo ficará muito mais claro. Alguém me
ensinou a viver 'ao terceiro dia' (como nas Escrituras), dando tempo ao
tempo, esperando que certas coisas voltem a fazer sentido, acreditando
que o melhor está sempre para acontecer. Acredito nisso. E por isso não
desanimo. E volto às minhas janelas onde há sempre alguma coisa que
me reconcilia com a vida. Desta vez foi o vestido pendurado pela Mena na
corda da roupa. Dou-me conta de que é aquele vestido especial, e fico ali
a vê-lo dançar ao vento lá fora, quase ao mesmo ritmo de um Improviso de
Schubert cá dentro. Não resisto a filmar esta cena meio-felliniana. Aqui fica.
Não faço a menor ideia da eficácia desta proibição numa cidade como Nova Iorque, nem consigo imaginar o que se pode considerar barulho desnecessário no meio de tantos ruídos e tanto movimento, mas percebo a ideia.
Apesar da ironia da coisa (do absurdo, talvez) concordo com uma proibição aos barulhos excessivos. Devia existir qualquer coisa parecida no nosso país que impedisse que fossemos assaltados por brocas e martelos às 8h da manhã todos os dias, excepto aos domingos.
Nunca percebi porque é que os homens das obras começam sempre o dia por fazer aquilo que é mais ruidoso. Parece de propósito pois à medida que a manhã avança e o dia corre, os martelos, as picaretas e brocas vão ficando mais silenciosos.
Vivo com obras no prédio, obras em condomínios nas traseiras e obras na rua em frente e reparo sistematicamente nesta coisa dos barulhos desnecessários. Dou comigo irritada pela perfuradora e brocas que inauguram o dia em todo o seu esplendor acordando a vizinhança inteira (parece que as obras são dentro do quarto, debaixo da almofada!) e depois ficam pousadas na pedra do chão durante mais de metade do dia.
Não compreendo a lógica da coisa mas agora, olhando para esta fotografia do João Francisco Moura, consola-me saber que algures no mundo alguém se preocupa e proibe o barulho desnecessário. Nice.
(imagem de João Francisco Moura, in Flickr)
Adoro esta fotografia. Faz-me lembrar uma imagem que vi num banco de jardim, perto de Biarritz, onde estavam dois namorados encostados, cabeça no ombro a ler.
Liam os dois o mesmo livro e na altura passei de carro com amigos e comentámos a imagem por nos parecer a representação do amor. Giras, as imagens que gravamos...
Semáforos encarnados e filas de trânsito em todas as ruas são o filme
diário de quem habita e trabalha nas grandes cidades. Lisboa começa
a ser um caos mesmo fora das horas de ponta. Atravessar a cidade de
um lado ao outro pode demorar horas e ser uma fonte de nervos. Para
vencer este semáforo foram precisos longos minutos. Ficou verde três
vezes antes de eu conseguir passar. Gravei um vídeo que dura apenas
um minuto mas parece uma eternidade. Valeu-me a música e a calma
aparente dos que estavam à minha volta. Ninguém buzinou, que alívio!
Aqui fica o filme de um longo, interminável exercício de paciência geral.
Más notícias! Os investigadores modernos, da contemporaneidade,
confirmam uma evidência científica que todos já sabemos há muito:
quando estamos tristes ou mais deprimidos gastamos muito mais
dinheiro. Estar down nos tempos que correm é sempre sinónimo de
uma inclinação para gastos supérfluos ou excessivos. É preciso ter
atenção a esta tentação, portanto. Os cientistas citados pelas revistas
Psychological Science e Psychologies dizem que mais do que gastar
dinheiro, ficamos sem critério. Ou seja, podemos pagar quatro vezes
o preço que pagaríamos pela mesma peça ou coisa em circunstâncias
ditas normais. É dramática esta nossa vulnerabilidade. E é assustadora.
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