Quinta-feira, 18 de Abril de 2013
VALE DE JUDEUS, 10 ANOS DEPOIS

 

Vou com alguma frequência a prisões e conheço pelo menos 15 dos 49 estabelecimentos prisionais nacionais. Hoje voltei a Vale de Judeus por uma razão literária, digamos assim. Tratava-se de entregar os prémios de um Concurso de Escrita Criativa aos reclusos vencedores. Concorreram presos de 28 cadeias e a qualidade dos seus escritos obrigou o júri a entregar várias Menções Honrosas e de Destaque. O tema era "Entre Gerações", ainda a celebrar o Ano Europeu da Solidariedade Intergeracional, e o 1º prémio coube a Franklin Lobo, cidadão recluso em Vale de Judeus. Por ele, mas também por um dos segundos prémios (igualmente residente em VJ), a cerimónia decorreu neste EP. Em videoconferência estiveram vários outros EPs e muitos reclusos, e a manhã solene foi um momento daqueles que ninguém esquece. Nem eles, nem nós. 


Todos os testemunhos e todos os escritos foram um 'murro no estômago' e a profundidade a que alguns dos autores conseguiram chegar foi muito interpeladora. A directora do EP de Beja contou aquela história do avô que diz ao neto que no seu coração "vive um lobo bom e um lobo mau" e lembrou-nos o fim da história, quando o neto pergunta ao avô:


- e qual deles é que vai ganhar?


- aquele que eu alimentar!


Voltamos de Vale de Judeus em silêncio, meio atordoados pelas frases que ficaram a fazer eco esta manhã e têm a ver com as noções de culpa e arrependimento, com a possibilidade de recomeçar ali qualquer coisa e, ainda, com a vontade assumida em alto por um recluso que citou Salvador Dali quando declarou:


- foi na prisão que decidi começar a ser livre.



publicado por Laurinda Alves às 21:31
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