Vou de férias no dia 7 e volto na última semana de Agosto. Antes de partir ainda tenho tanto, tanto trabalho para fazer e tantas coisas para deixar entregues e fechadas, que vou-me desligar do blog até ao fim do mês. Deixo aqui um poema de Sophia de que gosto muito e tem tudo a ver com a vida nos dias e noites de Verão. Boas férias para quem está de férias e até à volta!
OS DIAS DE VERÃO
Os dias de verão vastos como um reino
Cintilantes de areia e maré lisa
Os quartos apuram seu fresco de penumbra
Irmão do lírio e da concha é o nosso corpo
Tempo é de repouso e festa
O instante é completo como um fruto
Irmão do universo é o nosso corpo
O destino torna-se próximo e legível
Enquanto no terraço fitamos o alto enigma familiar dos astros
Que em sua imóvel mobilidade nos conduzem
Como se em tudo aflorasse eternidade
Justa é a forma do nosso corpo
Sophia de Mello Breyner Andresen
in Obra Poética, Volume III
Depois do sucesso que foi a primeira edição do fim-de-semana de actividades em família na Costa Vicentina, a Mariana Sabido decidiu dar sequência a esta sua organização e marcar as datas de 6, 7 e 8 de Maio para um segundo encontro, desta vez já com sol e calor. Tudo o que a Mariana cria tem uma luz especial e um toque muito original e, por isso, este tempo especialmente dedicado às famílias só pode ser um tempo luminoso e inspirador. Recordo que a Mariana fotografa tudo e cada participante tem direito a um CD de fotografias maravilhosas, de cinema. Quem quiser saber mais, clique aqui no blog da Mariana.
P.S.: Como passo a vida a recomendar pessoas, projectos e lugares de que gosto muito, deixo aqui o link para verem uma nova rubrica que tive o prazer de inaugurar ontem na SIC Mulher, onde me pediram para falar de um livro, um restaurante, uma viagem, um filme e uma banda de música:
Boas notícias: consegui transcrever todas as conversas que gravei com o pe Alberto em Bruxelas! Foram dias de 10 e 12h ao computador, sem grande tempo para ir à praia ou dar passeios, mas valeu a pena o esforço. Esta primeira fase está completa. Cabe agora ao pe Alberto olhar para tudo o que lhe mandei e dizer o que acha. A seguir, faremos juntos o trabalho de 'pentear' o texto, organizando os capítulos, acrescentando sínteses ou o que for preciso acrescentar. Hoje ainda consigo ler umas páginas do livro que estou a ler (estou nos clássicos: Tolstoi), ainda descanso um bocado e depois vamos para cima, para Lisboa. Ontem esqueci-me de acrescentar ao post sobre as linhas rectas que o pe Alberto sublinha uma outra realidade que é a seguinte: não importa onde estamos, aqui e agora, nem como estamos; só importa para onde vamos. Ou seja, a vida avalia-se pelo rumo, pelo sentido que lhe damos, independentemente de, aqui e agora, até podermos nem estar muito contentes com o nosso quotidiano. Se estamos a ir para onde queremos, óptimo. Se estamos a desviar muito o rumo, então é que temos que nos preocupar. Um grande amigo meu resume esta teoria de uma maneira muito prática e concreta: se queres apanhar o autocarro 27, não vás para a paragem do 50!
Continuo por aqui, a transcrever as gravações que fiz na semana passada em Bruxelas, e passo mais de 10h por dia sentada ao computador, tempo amplamente compensado pela alegria de rever e re-ouvir o pe Alberto de Brito. Felizmente hoje em dia gravo sempre som e imagem e isso não só facillita incrivelmente as 'desgravações' como, neste caso, tem esse plus de ver alguém de quem gosto tanto e com quem aprendo muito. Hoje estou num capítulo sobre a evolução pessoal e deixo aqui uma grande verdade que parece óbvia mas nem sempre é assim tão evidente: "Ninguém evolui em linha recta. Tudo cresce e progride com avanços e recuos. A linha recta é uma abstracção, só existe na nossa cabeça". É bom recordar certas verdades elementares, até para nos ajudar a não criar falsas expectativas sobre nós e os que estão à nossa volta.
A capela da Senhora da Rocha ao entardecer. Fui com o meu pai dar um passeio até à ermida e andámos por ali a pé. Os muros brancos, caiados, as árvores podadas, o mar e as escarpas são uma beleza. Esta tarde este lugar fez-me lembrar a Grécia.
O meu pai tirou-me uma fotografia esta manhã, no meu escritório ao ar livre, improvisado num dos parques infantis de Armação de Pêra, onde viemos passar uns dias. Neste parque construído ao lado do posto de Turismo, de frente para o mar, há wi fi grátis e acho graça poder trabalhar e escrever aqui, perto do mar e de frente para as crianças que brincam nos escorregas e nos baloiços. Estes dias aqui sabem-me pela vida. Primeiro porque podemos estar juntos com tempo; depois porque não estive com a minha mãe no seu dia de anos e podemos por as conversas em dia e compensar-nos mutuamente ao longo desta semana; finalmente porque está sol e posso aproveitar para ir à praia, mas também para trabalhar ao ar livre. Até ao fim da semana tenho que transcrever todas as conversas que gravei em Bruxelas e não imagino melhor lugar para o fazer do que na companhia dos meus pais, num tempo ainda com sol, num lugar tranquilo a dar sobre o mar. Agora que descobri este parque, acho que vou integrá-lo nas minhas rotinas diárias: meia hora por dia vai ser passada neste banco a ver mails, a responder-lhes e a dar sequência às questões mais urgentes. No resto do dia aproveitamos para os nossos passeios à beira-mar, para ler, para estarmos e conversarmos em casa ou no terraço. Maravilha!
Fim-de-semana cultural no País Basco: primeiro o Museu Guggenheim, em Bilbao, para ver a exposição retrospectiva de Anish Kapoor, um dos meus artistas preferidos. Há anos e anos que vou vendo as suas peças e instalações de forma avulsa, uma na Tate, outra em NY, outra em Chicago e por aí adiante... Desta vez o Guggenheim abriu todas as salas e galerias do 2º piso para acolher as obras mais expressivas de Kapoor.
Antes de entrar no museu, damos uns passos mais atrás para ver como evolui o cão de Jeff Koons. Adoro este cão orgânico, o seu tamanho descomunal, o mix de flores e plantas de que é feito. Não faço a menor ideia de quanto custa a manutenção de uma escultura tão viva como esta mas acho-a uma festa.
À entrada, logo no hall central, três Vénus colossais de um artista que mal conheço: Jim Dine. A obra tem um título eloquente: Three Red Spanish Venuses. O impacto destas esculturas é brutal.
Na galeria central do piso de entrada continuam as esculturas de ferro de Richard Serra. Apaixona-me o seu minimalismo e a maneira como ele nos propõe novos caminhos. Percorrer os seus labirintos de ferro ou avançar por dentro da sua Serpente, por exemplo, são experiências que permitem ter outras perspectivas do espaço. Fascina-me a escala de Serra, a sua depuração e a elegância com que molda o ferro, fazendo-o parecer incrivelmente leve e flexível.
Os 'C Curvos' de Anish Kapoor são um dos seus muitos ícones. Na sala dos espelhos estão o Sky Mirror, os C Curves, alguns espelhos convexos e outros que esticam, encolhem e distorcem a figura, proporcionando uma série de emoções que tanto nos lembram experiências da nossa infância (como as salas de espelhos de algumas feiras, por exemplo), como nos fazem sentir noutra realidade. A foto de baixo está muito fluida mas é também essa a sensação que temos perante estes espelhos...
Anish Kapoor é um dos artistas mais influentes do nosso tempo e tem uma obra admirável que vai de pequenas peças em que usa os coloridos pigmentos indianos, a instalações de grandes dimensões que ocupam o espaço público de ruas e avenidas em cidades muito cosmopolitas. Adorava conhecer pessoalmente o Anish Kapoor e ainda não perdi a esperança de o entrevistar. Sou pouco dada a idolatrias mas de alguma forma sinto que ele podia ser um dos meus ídolos...
Na foto de baixo vê-se um canhão que dispara balas de cera pigmentada de vermelho-sangue. Esta instalação é muito interpeladora e obriga-nos verdadeiramente a parar. De vez em quando um assistente de Kapoor aparece vestido de fato-macaco cinzento para disparar uma bala contra a parede do canto e o estrondo que se ouve em todo o Guggenheim é assustador.
Numa outra sala há uma escultura amarela que parece um enorme quadro e apetece contemplar demoradamente. À medida que nos aproximamos percebemos que não se trata de uma tela mas de um quadrado de uma espécie de cimento que tem no centro um buraco que dá a ilusão de ser um sol. Acho o amarelo fabuloso e a ilusão óptica muito inspiradora. Há quem fique parado longos minutos sem se mexer, a absorver a vibração e o calor deste sol...
Fora do Museu há esculturas e performances. Uma delas são os fumos que se levantam do espelho de água de vez em quando. Muito bom.
Comecei por dizer que primeiro fomos ao Guggenheim e agora digo que depois veio a Fundação Chillida e não só. Vou dando notícias.
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