Fui à estreia da peça A Controvérsia de Valladolid, de Jean-Claude Carrière, no Teatro São Luiz. Carrière escreveu um texto belíssimo, profundo e intemporal, Carlos Paulo traduziu e João Mota encenou. O resultado é um diálogo extraordinário entre várias personagens, numa espécie de julgamento, em que todos os actores representam de forma magistral. O diálogo histórico entre o filósofo Sepúlveda (Virgílio Castelo) e Frei Bartolomeu de las Casas (António Paulo) sobre o poder de decidir sobre a vida dos outros, sobre os povos conquistados e colonizados, sobre as atrocidades cometidas, enfim sobre a condição humana, é memorável e fica a fazer eco em nós. Pela complexidade, mas também pelas questões que levanta e pela actualidade destas mesmas questões.
No fim as pessoas aplaudiram de pé e depois houve a tradicional celebração de estreia com champagne e morangos no Jardim de Inverno, que é um espaço de enorme beleza, também muito poético. Nesta polaroid o Virgílio Castelo conversa com o pintor Diogo Guerra Pinto sobre a substância do tema e o papel de cada um. Esta peça é também uma forma de celebrar o 40º aniversário da Comuna - Teatro de Pesquisa, comemoração à qual o Teatro São Luiz se associou na estreia de um "texto fundamental sobre os abismos que se abrem entre nós e o outro", como vem escrito no convite e catálogo.
Não resisto a dar mais uma vez os parabéns aos actores e a todos os que se envolveram na produção d'A Controvérsia de Valladolid. É um texto denso que exige uma representação ao nível, mas todos estão à altura. Vale a pena ver, vai estar em cena até dia 6 de Maio.
Eis a última imagem de Natasha Marjanovic em palco, ontem à noite, no fim da sua peça Vento Leste. Tenho pena que seja uma imagem tão estática, depois de uma peça tão vibrante e profunda, mas como todos sabemos não é permitido filmar nem fotografar durante os espectáculos. Fui ver esta peça depois de um ano a tentar vê-la (e a tentar entrevistar a Natasha) e adorei. Natasha escreveu e representa uma peça autobiográfica sobre a sua vida de imigrante em Portugal. "Aprender Portugal" poderia ser outro título desta peça. aliás Natasha abre um livro com esse título a meio da performance. Esta mulher nasceu na antiga Jugoslávia e foi obrigada a emigrar da sua terra por causa da guerra. Chegou a Portugal com as duas filhas gémeas ainda pequenas em 1999, uma altura em que tudo era extraordinariamente difícil (e burocrático) para os imigrantes. Natasha conta toda esta história com um humor e uma graça incríveis, mas ao mesmo tempo com uma intensidade e um dramatismo muito realistas. Ontem esta representação revertia para uma causa (angariação de fundos para a construção do novo edifício do Centro Comunitário da Paróquia de Carcavelos), mas a Natasha faz temporadas com este e outros teatros. Deixo aqui os contactos de uma grande mulher, com talentos admiráveis e múltiplos. Sei que ela tem outros projectos extraordinários de teatro para crianças com dificuldades escolares e também dá cursos de cozinha a adolescentes. Vale a pena conhecer esta grande mulher e, por isso, aqui ficam os contactos: www.palcodechocolate.pt e 964379701.
Esta miúda tem 18 anos e chama-se Sofia. É aluna finalista da Escola Profissional de Teatro de Cascais (EPTC) e pertence ao elenco de A Nossa Cidade, a peça de Thornton Wilder que acompanha a vida quotidiana dos habitantes de Grover's Corners, uma pequena cidade imaginária de New Hampshire, no início do séc. XX. O nascimento, o amor e a morte são os três actos desta peça de Thornton Wilder, dramaturgo que recebeu 3 prémios Pullitzer ao longo da sua carreira. O espectáculo, encenado por Carlos Avilez, foi apresentado ao público no palco do TEC- Teatro Experimental de Cascais, e contou como prova de aptidão profissional do Curso de Interpretação da EPTC. Gostei muito da peça, dos actores e da encenação mas confesso que não consegui tirar os olhos desta miúda, que aos 18 anos interpretou o papel de mãe de dois filhos adolescentes, e tem uma presença em palco muito expressiva e promissora. Todo o elenco era extraordinário, aliás, e dou os meus parabéns a todos e a cada um. Muito bom.
Os humanos procuram o sucesso mas geralmente não sabem
viver. Eis uma das frases inaugurais de uma peça de teatro que
o grupo A Fauna apresentou ontem ao serão em Fátima. Estive
nesta cidade e também pela zona da Batalha a visitar projectos
e a conhecer pessoas, instituições e lugares. Tudo por estar em
plena campanha das Europeias pelo MEP. Este grupo de teatro
dirigido, encenado e inspirado por Simão Vieira, ofereceu a peça
ao MEP que, por sua vez, convidou três instituições para o serão.
Os actores do Grupo de Teatro da Biblioteca de Instrução Popular
de Vieira de Leiria apresentaram Staccato, uma peça com textos e
encenação de Simão Vieira. Aliás, toda a concepção plástica do
espectáculo é dele. A peça é surpreendente e muito divertida mas
também dá que pensar. Fala da diferença e da maneira como nos
vemos uns aos outros. E como olhamos para nós próprios. Muitos
diálogos representam (ou espelham) monólogos que mantemos
connosco mesmos. Na peça cada actor é um bicho de cada vez e
é muito cómica a maneira como caricaturam a natureza humana...
"Na sua maioria, os bichos não sabem que são bichos. Os
humanos sabem que não são bichos, mas evitam falar do
assunto. Os outros bichos só vivem o que há para viver. Não
fracassam. Os humanos procuram o sucesso e, geralmente,
não sabem viver." Estas frases revelam muito do que é dito
na peça mas o teatro vai muito mais longe e é muito mais
profundo. Adorei a iniciativa deste grupo mas, acima de tudo,
o gesto de generosidade. Graças a este gesto juntamos ali
um grupo alargado de pessoas ligadas a 3 instituições: uma
de acolhimento de jovens carenciados, outra de recuperação
de toxicodependentes mais um lar da terceira idade. Fartei-me
de rir com a peça. Agradeço do coração a todos. Foi muito bom.
. Noite de estreia d'A Cont...
. Esta miúda fez-me ir ao t...
. Os humanos procuram o suc...