É giro andar pelos corredores e escadarias da Assembleia da República nos dias em que estão povoados de estudantes, de adolescentes que se sentam no chão, se derramam pelos sofás e usam o espaço como se estivessem em casa. A escala monumental dos átrios e claustros fica ainda mais humana, instantaneamente mais alegre e mais vivida. Acho que os políticos também devem gostar deste suplemento de vozes e risos que entram na sua esfera quando chegam os alunos das escolas que visitam a AR.
Não resisto a partilhar uma cena matinal em casa dos meus pais: moramos ao lado uns dos outros há uns meses, porta com porta, e esta manhã quando fui dar os beijos de bons-dias, ao abrir depois o frigorífico com gestos maquinais e distraídos fui surpreendida com a música All Toghether Now cantada em alto por este dueto improvável Carminho/Moonspell. Voltei à sala e lá estava a minha mãe de computador ligado a ler o post no meu blog, com o vídeo a passar e a música a tocar altíssima. Muito bom. Muito divertido. Uma cena matinal quase tão improvável como o próprio dueto. Obrigada, Alexandre, Carminho & Cia por estes momentos únicos e irrepetíveis que nem sabem que provocam.
Gosto de andar de Metro em qualquer cidade do mundo, a começar por Lisboa. Gosto do imenso laboratório social que começa logo na entrada, nos túneis, passa pelas escadas e cais de espera, e abre para o movimento perpétuo das carruagens e da diversidade das pessoas que as povoam. Em Paris dão-nos indicações escritas do nosso percurso para não nos enganarmos nas linhas nem perdermos o rumo. De Cambronne à Bourse, ida e volta, foi um instante.
A Maria tem 2 anos e é o único bebé que mora no Orgal, uma povoação perto de Foz Côa. António, o avô, toma conta da neta de manhã à noite e os dois passam horas de mãos dadas e estão sempre próximos um do outro. António toda a vida trabalhou na terra, mas agora está reformado. A filha anda a trabalhar nas vinhas e deixa a Maria entregue aos cuidados do avô, que diz que a menina é muito sossegada e não dá trabalho nenhum. Durante a tarde inteira ninguém a viu chorar e esteve realmente muito sossegada, cheia de gestos de ternura com o avô. Muito queridos, um e outro.
Apanho muitas vezes o 28 nesta paragem e desço de eléctrico da Estrela para o Chiado. Adoro andar de eléctrico pela cidade e se não fosse a ameaça dos pickpockets sempre no ar, era uma alegria. Já assisti a grandes dramas provocados por roubos em eléctricos e já aprendi a proteger as minhas coisas, mas era muito mais simpático não existir esta realidade, claro. Ontem apanhei um eléctrico para subir para a Basílica da Estrela já em cima da hora e quando estava lá dentro percebi que nem tinha o passe nem moedas suficientes para pagar a viagem (tenho a mania de andar sem carteira e se mudo de casaco à pressa, como ontem, posso esquecer-me dos cartões e do dinheiro). Expliquei ao condutor e pedi-lhe para me deixar sair. Ele foi espectacular porque fingiu que não percebeu e subiu toda a Calçada da Estrela, até me deixar na paragem de cima, já depois da subida. Fiquei-lhe eternamente grata por dois motivos: primeiro, porque não queria chegar atrasada a uma missa muito importante para mim e para os meus amigos em sofrimento pela perda dos pais; segundo, porque me soube bem não ter que correr por uma rua íngreme acima, já com o frio gelado da noite. Ainda bem que há pessoas queridas, capazes de gestos generosos e com poder para intuir que há situações em que precisamos mesmo que nos compreendam e ajudem. Se alguém souber quem era o condutor do 28 que estava de serviço ontem pelas 20:10, agradeça-lhe por mim. Obrigada.
Este post não tem nada a ver com o filme de Elia Kazan nem com a peça de Tennessee Williams. A Streetcar Named Desire, o filme de Kazan inspirado na peça de Williams, era outra história, mas apetece-me usar o título de um dos filmes lendários dos anos 50 para falar de outro tipo de eléctricos e outro tipo de desejos. Ando diariamente de eléctrico e adoro este meio de transporte, mas (há sempre um 'mas') custa imenso perceber que os ladrões de carteiras continuam activos apesar de todas as operações da polícia que, na semana passada, prendeu quase 20 destes pickpockets.
A maneira ardilosa como actuam e se fazem passar por simples passageiros é incrivelmente eficaz, e para quem entra num eléctrico mais ou menos desprevenido, de carteira ao ombro, sem prestar muita atenção aos avisos colados nos vidros que alertam para os perigos que corremos dentro dos transportes públicos, uma pequena viagem pode terminar num grande drama. Assisti esta semana ao ataque de choro de uma japonesa que saiu no Chiado depois de reparar que tinha ficado sem carteira, dinheiro e documentos. Olhei à volta e ainda vi o vulto de um homem de camisa escura a dobrar a esquina e a misturar-se com a multidão de pessoas que sobem e descem a Rua Garrett. Eu estava dentro do eléctrico e não pude fazer nada porque já estava em andamento. Vi a japonesa ficar para trás, desesperada, no passeio, e senti uma enorme impotência e frustração. Ao meu lado uma rapariga com ar de estudante de liceu disse-me: "coitada, é turista! Eu cá já os conheço todos, uns andam vestidos de fato e gravata, outros de turista e outros com roupas normais, mas eu sei quem são e nunca fui roubada".
Saí do eléctrico quase no fim da linha, desconsolada com a cena e com esta certeza de não ser o primeiro nem o último roubo nos eléctricos de Lisboa. A imagem da japonesa perturbou-me tanto como a passividade com que a esmagadora maioria dos passageiros olha para estas cenas. Como se fosse tudo normal. E o pior é que, de certa forma, até é. Que chato existir esta casta de ladrões cheios de expediente e disfarces a 'trabalhar' dia e noite dentro dos eléctricos e autocarros. Deixam-nos a todos intranquilos e transformam as viagens pela cidade numa espécie de suspense permanente. Todas as pessoas que entram e saem são suspeitas e passamos a maior parte do tempo a tentar descobrir se o senhor com bom aspecto que se sentou ao nosso lado vai tentar ficar com a nossa carteira e telemóvel...
Tirei esta fotografia no atelier do Rui Calçada Bastos, artista plástico, que vive e trabalha em Berlim. Não sei se entretanto ele já mudou para outro espaço, mas se ainda aqui está, a mudança deve estar para breve. Lembrei-me desta foto agora porque começo hoje a semana e um novo ciclo (com outro foco) que vai durar cerca de 4 meses. Até Setembro estou mergulhada numa mesa de montagem da Íngreme, empresa criada e gerida pelo Ricardo Portela que só conheci no dia em que tivémos uma reunião na Garage, mas de quem gostei imediatamente. A Íngreme é mais uma daquelas empresas onde apetece trabalhar e onde o espírito da equipa faz toda a diferença. O espaço também é muito bonito e bem arquitectado, mas o que faz realmente a diferença nas empresas é quem lá trabalha e quem dirige as equipas. Durante os próximos meses vou estar mergulhada na semi-escuridão das cabines e mesas de montagem, onde não há janelas nem se percebe se é dia ou noite. A boa notícia é estar na Íngreme a trabalhar com o Rodrigo Brazão, o Miguel Almeida e o André Cruz (o realizador com quem gravei as entrevistas e imagens) e adorar esta parte do trabalho. Felizmente dá-me tanto prazer viajar e entrevistar como visionar, escrever e editar. Espero estar à altura de mais esta 'empreitada'! Boa semana para todos. Vou dando notícias. À tarde vou à TVI gravar para o programa Biblioteca Ideal do João Paulo Sacadura e à noite vou com o meu filho a Sintra a um concerto de piano de um dos maiores pianistas vivos. Esta segunda-feira promete! No fim da tarde vou à apresentação da equipa da Turma do Bem, na Fundação EDP. Tenho que falar aqui sobre este projecto espactacular que envolve dentistas voluntários que tratam gratuitamente dos dentes de crianças e jovens desfavorecidos. Amanhã espero ter boas imagens e histórias para contar.
Gosto particularmente de arte pública, de ver exposições nas ruas, de contemplar esculturas e instalações nos passeios, de ver fotografias de autor nos transportes públicos. Travis Ruse, fotógrafo norte-americano com um talento especial para captar a luz e as sombras no Metro, tem uma exposição de fotografias belíssimas nos corredores do próprio Metro, em NY.
Durante meses a fio Travis Ruse fez o caminho de Brooklyn para Manhattan de Metro e entreteve-se a observar as pessoas e a fotografá-las. O resultado de parte deste demorado exercício de contemplação está à vista nos outdoors das plataformas do Metro nova-iorquino, mas também pode ser visto no facebook e no blog e site do fotógrafo. Vale a pena ver o seu trabalho e conhecer a perspectiva da sua arte.
Acho graça às diferenças de arquitectura mental e afectiva entre homens e mulheres. Uma mulher nunca se lembraria de parar no meio da rua para fotografar o motor de um carro (a não ser por motivos profissionais, claro. Ou por ser corredora de automóveis ou ter um fascínio 'masculino' por carros), e muito menos para andar à volta, a ver tudo com todo o detalhe. Um homem sim. Não só pára e admira demoradamente o carro e o motor, como fotografa de todos os ângulos e perspectivas possíveis. É gira a diferença entre homens e mulheres e embora este post ilustre apenas uma situação banal ou menor, na vida real há muitos desencontros por causa desta diferença de olhares e atitudes. Para mim, a memória gráfica deste momento serve de post-it mental para não me esquecer de algumas diferenças substantivas, mas também para lhes dar menos importância sempre que tropeço nelas.
Ia a conversa pelas ruas do Soho com o Andre Cruz, o realizador desta serie de programas sobre os portugueses no mundo, quando ele reparou nesta parede amarela. Diss que era um fundo espectacular para fazer fotos e fez uma pose. Improvisamos um street studio na rua e fizemos retratos um do outro.
Uma americana simpatica que passou com o marido no momento em que faziamos as fotos, achou o nosso estudio improvisado muito giro e disse que nos queria tirar uma fotografia aos dois. Aqui fica o registo, por graca.
O Paulo Segadaes nao estava connosco nesse momento mas queremos voltar ao "estudio" para uma fotografia juntos. Agora vou-me embora e como temos dias muito, muito preenchidos, nao sei quando volto ao blog. Ate breve!
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