Não resisti e fui ao anfiteatro da Gulbenkian ao fim da tarde ouvir as Orquestras Geração. Foi uma festa e um momento inesquecível!
Ouvir estes miúdos tocar e tocar tão bem, é um poema. Muitos deles vivem em realidades difíceis, muito carenciadas, e a música ajuda-os a escapar de destinos muito adversos. A elevação intelectual, emocional e até moral, mais o reconhecimento social dos seus talentos, constituem um estímulo incrível para vencer obstáculos e ganhar confiança em si mesmos. O anfiteatro estava cheio, a transbordar, de pessoas atentas e entusiastas.
Os solistas, por assim dizer, foram extraordinários, mas toda a orquestra é um fenómeno decorrente de outro grande fenómeno no qual se inspira. Falo do Programa das Orquestras Sinfónicas Infantis e Juvenis da Venezuela que, como muitos sabem, faz com que o ensino da música clássica tenha entrado nas favelas com uma naturalidade impressionante. O projecto consiste na criação de uma rede de orquestras nos bairros desfavorecidos da Venezuela, para resgatar as novas gerações e evitar que perpetuem ciclos de pobreza.
Aplaudimos de pé várias vezes e confesso que sou das que bateram palmas a tentar conter as lágrimas, pois tudo aquilo que vimos e ouvimos foi muito comovente. Hoje em dia as Orquestras Geração em Portugal já envolvem cerca de 700 crianças e jovens. É fabuloso ver como em apenas 4 anos tudo cresceu e se multiplicou desta maneira espantosa. Há 4 anos a 1ª orquestra tinha apenas 16 músicos.
A alegria em palco contagiou naturalmente a alegria na plateia. É giro ver a espontaneidade dos jovens músicos em palco, que tanto dançam enquanto tocam como estão impecavelmente alinhados, com solenidade e rigor. Fui com os meus pais e, ao meu lado, o meu pai comentou: "se fecharmos os olhos não percebemos se estamos a ouvir uma orquestra senior ou junior". Esta é a mais pura das verdades e daí também o sucesso deste programa. Aqui, como na Venezuela, onde o expoente máximo destas orquestras é a Simon Bolívar (orquestrada pelo lendário Gustavo Dudamel com paixão e nervo), estes miúdos tocam como grandes profissionais. Lindo!
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