E porque hoje também é dia de celebrar a vida de uma outra
amiga que faz 33 anos, deixo aqui a imagem de alguém que
me é muito querido, a olhar para o infinito do céu com toda a
força de quem é capaz de fazer perguntas que jamais terão a
resposta que procuramos.Também ela se interrogou sobre a
doença da mãe, que felizmente agora está curada. E também
nós nos interrogamos sobre a vida e a morte nos momentos
em que a celebramos ou choramos. Hoje é dia de lágrimas e
risos, de agradecer e de rezar, de aceitar a vida tal como ela é.
Deixo aqui um poema de Sophia porque me parece apropriado.
Apesar das ruínas e da morte,
Onde sempre acabou cada ilusão,
A força dos meus sonhos é tão forte
Que de tudo renasce a exaltação
E nunca as minhas mãos ficam vazias.
Parei na Rua do Século para fotografar este muro com limões
de grandes limoeiros que crescem e florescem há anos numa
casa meio abandonada. Nunca vi a casa porque os muros são
altos mas espanta-me a quantidade e a qualidade dos limões.
Quando estava a fotografar o muro recebi uma chamada triste.
Era a notícia da morte do pai de uma grande amiga que é como
se fosse minha irmã. O pai dela foi internado no mesmo fim de
semana da minha mãe, no mesmo piso, no quarto mesmo ao
lado. É uma notícia chocante e uma perda demasiado grande.
Dói muito a dor dos que nos são queridos e ainda mais quando
choram alguém que lhes faz tanta falta. Não sei que diga nem o
que pense. Nestas alturas não há palavras nem sentido. Só dor.
Adoro as horas de estudo de piano e as rotinas diárias de
uma casa vivida onde cada coisa tem o seu lugar, cada um
tem o seu espaço e as coisas acontecem com naturalidade.
Às vezes fico calada de frente para as minhas janelas a ouvir
os sons cá dentro e os barulhos lá fora. Ou a acompanhar o
voo das gaivotas e o movimento das pessoas ao fundo, nas
ruas de degraus de pedra. Gosto da vida das cidades e de ver como
as coisas acontecem. Fascinam-me os detalhes e prendem-me os
gestos. Ouço frases que foram ditas e ficam a fazer eco como se as
ouvisse de novo. Gosto deste secreto poder da memória, quando traz
de volta alguém ou alguma coisa que apetece reviver. Nos dias mais
difíceis, como estes que agora estamos a atravessar, fico mais calada
e contemplativa. Pergunto-me os 'porquês' e 'para quês' das coisas. Não
encontro respostas evidentes mas apenas pistas, chaves de leitura que
permitem acreditar que um dia tudo ficará muito mais claro. Alguém me
ensinou a viver 'ao terceiro dia' (como nas Escrituras), dando tempo ao
tempo, esperando que certas coisas voltem a fazer sentido, acreditando
que o melhor está sempre para acontecer. Acredito nisso. E por isso não
desanimo. E volto às minhas janelas onde há sempre alguma coisa que
me reconcilia com a vida. Desta vez foi o vestido pendurado pela Mena na
corda da roupa. Dou-me conta de que é aquele vestido especial, e fico ali
a vê-lo dançar ao vento lá fora, quase ao mesmo ritmo de um Improviso de
Schubert cá dentro. Não resisto a filmar esta cena meio-felliniana. Aqui fica.
Uma agenda nova, apenas com as primeiras cinco páginas
escritas, é uma boa imagem para o ano que hoje começa...
O primeiro dia de trabalho, sem ser entre festas e feriados, é
tão importante como o primeiro dia de um ano novo. Hoje as
coisas que temos para fazer são tantas e tão variadas que
parecem demais. Olhar para este tempo inaugural como se
olha para uma agenda nova, com tudo por preencher, é um
exercício desafiador.Gosto da ideia dos 'espaços em branco'
e gosto de sentir que está na minha mão tentar fazer mais e
melhor em cada dia. É essa a minha aposta hoje e sempre.
Este Natal ofereci O Profeta de Khalil Gibran a alguém de quem gosto muito e ontem voltámos a alguns destes poemas eternos. Deixo aqui a parte dos pensamentos sobre a alegria e a tristeza que mais eco tiveram.
A vossa alegria é a vossa tristeza sem máscara. O poço onde corre o vosso riso esteve muitas vezes cheio de lágrimas. Como poderia ser de outra forma?
Quanto mais fundo a dor escavar a vossa alma mais alegria caberá em vós.
Alguns dirão: A alegria é maior do que a tristeza. Outros que a tristeza é maior. Eu digo-vos que são inseparáveis. Vêm juntas, e quando uma se senta a sós convosco à mesa lembrai-vos que a outra dorme na vossa cama.
Sois como os pratos de uma balança sempre suspensa entre a vossa tristeza e a vossa alegria. Apenas quando ficais vazios estais imóveis e em equilíbrio.
(in O Profeta, editora Alma Azul)
Como sabem adoro as fotografias da Mariana Sabido e hoje dei com esta no seu blog e não resisti a importá-la para aqui. Primeiro porque é inspiradora e tem uma luz linda; depois por ser eloquente de um tempo de preguiça e de dolce fare niente, finalmente porque mostra uns pés que me fazem lembrar outros pés...
A noite hoje foi passada em branco até às 4h30m por causa das dores e falta de posição para o pé operado mas ao princípio da madrugada a coisa estabilizou e foi possível descansar. Esta manhã li os comentários ao meu post de ontem e agradeço do coração a solidariedade. E espero sinceramente que o Miguel, filho do Fernando, esteja melhor e recupere rapidamente!
Aproveito a boleia destes e outros coments para agradecer esta proximidade tão atenta e tão querida dos que 'falam' e dos que calam. Ter muito mais de mil pessoas por dia aqui no blog enche-me de certezas para a vida, acreditem! Certezas como a amizade e a confiança, mas também uma cumplicidade enorme que alegra os meus dias, que me comove sempre e que me diz que vale a pena esta partilha diária entre todos.
A Romina, a Su, a Sissia, os J, a Maria Teresa, a Isabel Jacome e as outras Isabéis, a Zilda, a Mónica, o Augusto, a Bibabalula, a Solnocoração, a Joana BF, a Joana Freudenthal, o Pedro, o Rui, a Vera, o Manuel, a Mouraveirense, o Nuno, o Fernando Alves, a Sílvia e todos os outros que não esqueço mas hei-de ir enunciando com tempo para agora não me perder nem correr o risco de deixar algum de fora (desta maneira aleatória pelo menos sabem que são tantos os que cito como os que 'ficam de fora', salvo seja!), todos fazem parte do meu dia-a-dia, dos meus momentos de recolhimento ou catarse.
Sim, porque se não existissem, se não estivessem tão próximos e não fossem tão generosos muita coisa ficaria por purificar e transformar nos meus dias. E é por isso que agradeço a todos e a cada um. Especialmente aos que agora não cito mas sei de cor os nomes porque os acompanho pelo que partilham, sugerem e me acrescentam. Muito obrigada. E boas férias, se for caso disso! Para mim estas duas semanas vão ser de trabalho intensivo mas quem corre por gosto não cansa...
(imagem de João Francisco Moura, in Flickr)
Ouvi há pouco tempo o padre Tolentino de Mendonça dissertar sobre
o sentido da vida e tudo aquilo que nos transcende. Poeta inspirado
como só ele sabe ser, usa um português maravilhoso que podia ser
passado para o papel tal e qual. De tudo o que disse ficou-me esta
interrogação gravada: quem de nós seria capaz de criar uma manhã?
Ser padre todos os dias cansa? Um padre pode abraçar e ser abraçado? E ir à praia, despir a roupa e ficar em fato de banho não lhe traz embaraços perante os amigos? Sublimar os afectos pode dar taras? Estas e outras perguntas não podem ser feitas a qualquer padre.
Felizmente Nuno Tovar de Lemos não é um padre qualquer. Engenheiro de formação e padre jesuíta por vocação, tem 47 anos, escreve livros, canta, toca viola, compõe música e escreve as suas próprias letras. Trabalha há anos a fio em centros universitários frequentados diariamente por nuvens de estudantes.
Os centros universitários criados pelos jesuítas são verdadeiras 'fábricas' de talentos e animadores de programas sociais, culturais e espirituais. Os padres jesuítas têm uma formação média de 12 anos, com longos períodos de estudo dentro e fora de Portugal, coisa que lhes dá uma preparação invulgar e muito abrangente. Conhecidos dentro da Igreja por terem o dom da comunicação, sabem traduzir a complexidade da realidade bíblica por palavras simples e concretas, muito rentes à realidade do dia-a-dia.
Para além de ser um padre inspirado e inspirador com o dom da palavra, Nuno Tovar de Lemos é um grande amigo. Ainda bem que há amigos a quem podemos fazer estas e outras perguntas.
Num dia de nervos e preparação psicológica para o jogo inaugural de Portugal no primeiro dia do Euro 2008, todos os caminhos vão dar à Suíça. Ou quase.
Há quem se prepare para percorrer uma distância semelhante numa latitude parecida, mas com uma atitude oposta. Soa demasiado cifrado? Eu explico.
Francisco Garcia, engenheiro, 44 anos, professor no Instituto Superior Técnico, parte hoje mesmo para a Dordogne (França) para um retiro budista de 3 anos. Sem nervos, com muita calma, tranquilidade e assurance interior, Francisco está neste momento a acabar de fazer a mala para apanhar o avião da tarde e 'aterrar' em Chanteloube, numa terra muito bonita entre Bordéus e Toulouse.
Durante os próximos três anos Francisco vai meditar e aprofundar com Mestres e orientadores as práticas budistas tibetanas que já fazem parte do seu dia-a-dia há quase dez anos. Francisco fez esta opção de largar tudo e partir porque sente que precisa de mudar radicalmente de padrão de vida, de reconfigurar os seus modelos de bem-estar e de largar uma série de vícios e imagens distorcidas do mundo e da realidade à sua volta.
A escolha deste caminho não é emocional, muito pelo contrário, é uma escolha de 'razão pura'. Na lógica de Francisco e dos Mestres budistas tibetanos, é também um caminho de libertação das emoções negativas e de tudo aquilo que impede o conhecimento e a Iluminação.
Para quem a meditação faz sentido, para quem é sensível à mensagem do Dalai Lama e para quem as práticas budistas tibetanas não se confundem com 'aquelas coisas muito zen' ou com 'aqueles exercícios estranhos de levitação e assim', aqui fica uma entrevista de 6 minutos que se ouve como se fossem apenas 2, de Francisco Garcia a poucas horas da sua partida para a Dordogne. Bom retiro e até daqui a 3 anos!
Salvador Mendes de Almeida voltou ontem ao liceu para um encontro com alunos e professores que o convidaram a falar sobre Prevenção Rodoviária e sobre a sua Associação, mas também lhe pediram para dar testemunho sobre a sua vida após o acidente de mota que o deixou tetraplégico.
Perante uma plateia de alunos de várias idades, Salvador falou com naturalidade e contou detalhes que interpelaram profundamente quem estava presente. Todos ficaram com a certeza de que acidentes como o dele podem acontecer a qualquer um e esta certeza funcionou como uma espécie de murro no estômago.
Uma tomada de consciência de que "a inconsciência mata" e "a estrada deve ser um meio mas não um fim!", como diziam os slogans dos alunos que apresentaram um filme chocante mas muito eficaz sobre acidentes na estrada.
No fim, o grupo de finalistas do Liceu Pedro Nunes que teve a iniciativa de organizar este encontro no Dia de Solidariedade da sua escola, estava muito contente com o impacto positivo e o efeito transformador que o Salvador teve sobre a plateia.
Foi bom e é importante ouvir testemunhos destes numa idade em que os adolescentes ou já têm carta de condução ou estão a pensar tirá-la.
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