Uma pata e quatro patinhos cruzaram-se no meu caminho esta tarde, nos jardins da Gulbenkian. Durante o instante em que nos acompanhámos uns aos outros não pude deixar de atrasar o passo, para evitar que se assustassem e fugissem. É tão improvável um encontro destes no centro da cidade, que apetece fazê-lo durar. Este momento já teria feito a minha tarde, se não fosse um encontro maior, mais à frente, já a caminho do 'planeta' Dialogue Cafe.
O Mia Couto estava a dar uma entrevista na Fundação Calouste Gulbenkian e desafiei-o a ir ter comigo depois à sala 3, a sala do Dialogue Cafe, onde está instalado o sistema de Telepresença da Cisco e onde me sento sempre que estou na Fundação. Este espaço é mais do que um sonho e no tempo em que não há sessões de DC, reina um silêncio e uma paz muito inspiradores para trabalhar. Esta tarde o privilégio maior foi poder explicar ao Mia o sistema do DC e combinar com ele uma sessão para breve. Grande pinta e grande surpresa.
Impressionante a quantidade de gente que se juntou ontem à volta do Mia Couto, apesar da chuva e do frio, para o ouvir falar do seu novo livro, para conversar com ele e ter mais um autógrafo. Comecei a ler o livro e já estou adiantada, mas já em fase de poupar páginas. Acontece-me sempre que leio um livro muito bom. Começo a demorar, para a leitura durar mais tempo. É uma espécie de batota que todos os leitores fazem com os seus autores preferidos. Com o Brodsky foi sempre assim: os livros pousados antes de chegar ao fim, para esticar o tempo e ter a ilusão de perpetuar a narrativa. A Confissão da Leoa é, como disse José Eduardo Agualusa, um livro inaugural, um livro radical, uma nova maneira de o Mia contar uma história. Desta vez ele parte de uma narrativa duríssima, de uma realidade brutal mas que parece irreal: em 4 meses 26 pessoas de uma povoação moçambicana foram devoradas por leões e é sobre este acontecimento que o autor recria uma história, um livro trespassado de dor e humanidade, mas também de surpresa e mistério. Não vale a pena escrever muito mais, porque tudo o que eu possa dizer fica aquém, muito aquém, e nem sequer faz justiça ao livro nem ao autor. Se puderem, leiam, é muito bom.
"Um acontecimento real - as sucessivas mortes de pessoas provocadas por ataques de leões numa remota região do norte de Moçambique - é pretexto para Mia Couto escrever um supreendente romance. Não tanto sobre leões e caçadas, mas sobre homens e mulheres vivendo em condições extremas. Como afirma um dos personagens, 'aqui não há polícia, não há governo, e mesmo Deus só há às vezes"
Grande pinta! Mais um prémio mais que merecido para
o Mia Couto. O António Brazão fez bem e sublinhar este
facto, pois ainda não tinha tido tempo de falar do Prémio
Eduardo Lourenço aqui no blog. Fica feita a referência e
ficam os meus sinceros parabéns ao Mia. Adoro os seus
livros, a sua originalidade escrita e falada, e não me
canso de o ler nem de o ouvir falar. Gosto muito de ser
sua amiga e gosto ser sua contemporânea. Um duplo luxo!
Estive com o Mia Couto na Feira do Livro e vamos voltar a ver-nos no próximo domingo, dia 15, o último dia da Feira em que ambos estaremos no mesmo perímetro do espaço LeYa, a dar autógrafos. Comprei o seu último livro, Tradutor de Chuvas, e ele escreveu-me mais uma dedicatória maravilhosa. Adoro o Mia e ele sabe. A Patrícia também, pois tanto gosto de um como de outro!
Um lenço branco
apaga o céu.
A fala da asa
vai traduzindo chuvas:
não há adeus
no idioma das aves.
O mundo voa
e apenas o poeta
faz companhia ao chão.
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