Fui com o meu filho ao recital de piano que Gabriela Montero, venezuelana, deu esta noite na Gulbenkian. Ele voltou hoje de fora e como o voo se atrasou só conseguimos assistir à segunda parte do concerto. Ficamos com o melhor: os improvisos de uma pianista virtuosa, apaixonada e particularmente dotada para improvisar a partir de notas soltas e músicas mais ou menos populares e conhecidas. Não sei de nenhum outro músico clássico capaz destes improvisos, mas sei que a noite foi uma alegria e cada improviso um poema. Gabriela Montero deu o seu primeiro concerto público aos 5 anos de idade em Caracas e quando completou 8 anos o governo venezuelano atribuiu-lhe uma bolsa para poder estudar nos EUA. Recebeu o seu primeiro prémio aos 12 e interpretou com a Orquestra Sinfónica de Cincinnati o primeiro concerto para piano de Tchaikovsky. Gravou para a EMI Classics um duplo CD com obras de Rachmaninov, Chopin, Liszt, Granados, Ginastera e Scriabine e ainda um disco de improvisações sobre temas clássicos que diz muito sobre este seu dom do improviso que é, afinal, parte substantiva e inspiradora da sua actividade artística. Fiquei na primeira fila, no lugar de uma amiga cirurgiã que estava a operar esta noite, e foi um privilégio e uma beleza ver e ouvir Gabriela Montero tocar e falar. Gostei particularmente da alegria e paixão com que toca.
Aos 72 anos, Al Jarreau impressiona pela vitalidade e alegria em palco. Continua a ter aquela sua extraordinaria sonoridade musical e a imitar vários instrumentos com a sua própria voz. Depois de vários internamentos por problemas cardíacos e respiratórios, voltou aos palcos e às digressões. É incrível esta sua atitude de superação e a força que revela.
Tanto ou mais do que a sua voz e a sua força interior, marcam-nos a sua alegria e a sua ternura. Canta a sorrir e ri por tudo e por nada. Oferece sucessivamente o palco aos seus músicos para poder fazer as suas pausas, mas também para os deixar brilhar. E brilham mesmo. No fim Al Jarreau ficou muito próximo do público e deixou-se abraçar, tocar e fotografar com os seus fãs. Quando as luzes do palco se apagaram ele desceu e ficou no meio de um círculo de admiradores, com quem conversou animadamente. Impressionante, mesmo. O concerto foi muito bom e todos dançámos e cantámos alguns dos seus hits. Era impossível não o acompanhar.
Arlindo Andrade, caboverdeano, 29 anos, Mestrado em Ciência Política, é muito conhecido pela população residente na zona da Baixa-Chiado e, em especial, entre os que circulam no perímetro da Basílica dos Mártires e da Igreja do Santíssimo Sacramento, onde canta e ensaia as assembleias de crentes que vão à missa aos domingos e em muitos dias de semana. Conheço o Arlindo há vários anos e impressiona-me o seu talento musical, a sua voz forte e tranquila, a sua maneira de cantar sem esforço, muito natural, com uma sonoridade vagamente parecida com a de Art Garfunkel, nos tempos da dupla imortal Simon & Garfunkel. Hoje fui à missa nos Mártires e lá estava o Arlindo com o seu sorriso alegre e a sua maneira sempre educada de ser e estar. No fim da missa conversámos sobre o seu novo disco e perguntei-lhe se podia tirar estas fotografias para publicar no blog. Disse que sim e falámos desta colectânea de letras e músicas que ele próprio compôs, a que deu o título Na Tua Paz. Arlindo fez o curso de Música Sacra e neste disco tem 3 músicas em que canta acompanhado ao órgão por Pedro Cerqueira. O disco é muito bonito e dou os sinceros parabéns ao Arlindo pelo talento, pela inspiração e também pela persistência. Ainda bem que canta e não desiste dos seus sonhos. Nós, os que o ouvimos projectar a voz sob as abóbodas de pedra da Basílica, também rezamos para que nunca deixe de cantar, seja aqui ou em qualquer lugar. Disse-lhe que era como um anjo negro. Ele disse que nem pensar, depois sorriu timidamente e agradeceu. Obrigada, nós.
O disco está à venda na Basílica dos Mártires, mas quem quiser pode encomendá-lo por mail: arlyn.amigo@gmail.com.
Fui ouvir o concerto de lançamento do novo disco da Carminho ao Centro Cultural Olga Cadaval, em Sintra, e foi uma emoção. Casa cheia, a transbordar, e a Carminho no seu melhor. Alma é o único título possível para este disco. Não consigo imaginar nenhum outro depois de ouvir a voz, as músicas e as letras. Aplaudida de pé por todos, sem excepção, Carminho voltou ao palco e por nós ainda lá estavamos a ouvi-la cantar. Pela voz, pelo talento, pela atitude, pela presença em palco, pela inspiração com que fala entre músicas e pela naturalidade com que ri e sorri. Adoro ouvi-la cantar e esta noite foi um poema. O disco é uma beleza e tem uma força incrível. Gostei particularmente de algumas letras e músicas, mas aquela que porventura ficou a fazer mais eco foi o poema de Vasco Graça Moura "Talvez", acompanhado pelos músicos da Carminho e um convidado especial: Mário Pacheco, que escolheu este poema e o musicou. Lindo!
Como não é permitido tirar fotografias durante os espectáculos ao vivo, esperei pelo fim do concerto e pelo início dos autógrafos e abraços para dar os parabéns à Carminho e fazer estas polaroids. A fila de fãs era longa, quase interminável, e por isso o nosso abraço foi rápido mas forte. Quando a Carminho canta parece que tudo no mundo fica certo e no seu lugar, mas não sei se ela sabe que tem este dom de embalar o mundo e de nos sossegar. Mesmo a exaltação que sentimos ao ouvir a sua voz única, inigualável, é uma força silenciosa, íntima, sagrada, nem sei bem explicar, é um misto de exaltação e gratidão.
Diogo Clemente, que toca viola, compõe músicas e letras, e fez a direcção musical do concerto e das gravações de Alma, está entre a avó e a mãe da Carminho, também ela fadista. Estão todos de parabéns, uns por umas razões e outros por outras, mas quem verdadeiramente merece todos os elogios e aplausos esta noite é a própria Carminho. Alguém gritou da plateia "és grande, Carminho!" depois de ela ter cantado à capella, e eu subscrevo inteiramente e até diria mais: "és um monumento, Carminho!". Logo à noite há outro concerto, mas também já está esgotado.
Hoje há missa em fado no Chiado. Organizada por José Campos e Sousa, músico e compositor, esta missa fadista já é um clássico no coração do centro histórico da cidade. Deixo aqui o programa: QUANDO O FADO É ORAÇÃO
Domingo, 27 de Novembro, às 18H30 na Basílica dos Mártires, ao Chiado.
BERNARDO COUTO-GUITARRA PORTUGUESA
FILIPA GALVÃO TELLES-VOZ
JOSÉ CAMPOS E SOUSA-VOZ E GUITARRA CLÁSSICA
RICARDO MOTA - VIOLONCELO
nota: esta fotografia foi importada deste blog. Logo, depois da Missa, mudo-a e publico uma minha tirada nos Mártires.
Ouvir um coro cantar numa varanda da cidade é uma beleza e, de certa forma, uma surpresa. Este sábado o Chiado esteve em festa e durante toda a tarde houve música e animação na Rua Garrett. O coro juvenil cantou em português e inglês com tanta, tanta alegria, que era impossível resistir. A rua parou e juntou-se uma multidão de pessoas para ouvir as vozes das crianças e adolescentes. Lindo! Não consegui perceber que coro era este, mas tive pena. Aqui fica o registo de um momento especial.
No próximo dia 10 a maestrina Joana Carneiro vai dirigir um concerto explicado no auditório do Colégio São João de Brito, em Lisboa. Tenho pena de não estar cá, mas se estivesse não perdia esta oportunidade de a ouvir falar, de a ver conduzir uma orquestra e de perceber melhor a música clássica através de uma mulher que admiro profundamente. Deixo aqui os contactos para quem quiser e puder assistir a este serão que vai ser marcante. Bilhetes e reservas: 96 954 23 46 info@cupav.pt. Para saber mais cliquem aqui.
Não resisti e fui ao anfiteatro da Gulbenkian ao fim da tarde ouvir as Orquestras Geração. Foi uma festa e um momento inesquecível!
Ouvir estes miúdos tocar e tocar tão bem, é um poema. Muitos deles vivem em realidades difíceis, muito carenciadas, e a música ajuda-os a escapar de destinos muito adversos. A elevação intelectual, emocional e até moral, mais o reconhecimento social dos seus talentos, constituem um estímulo incrível para vencer obstáculos e ganhar confiança em si mesmos. O anfiteatro estava cheio, a transbordar, de pessoas atentas e entusiastas.
Os solistas, por assim dizer, foram extraordinários, mas toda a orquestra é um fenómeno decorrente de outro grande fenómeno no qual se inspira. Falo do Programa das Orquestras Sinfónicas Infantis e Juvenis da Venezuela que, como muitos sabem, faz com que o ensino da música clássica tenha entrado nas favelas com uma naturalidade impressionante. O projecto consiste na criação de uma rede de orquestras nos bairros desfavorecidos da Venezuela, para resgatar as novas gerações e evitar que perpetuem ciclos de pobreza.
Aplaudimos de pé várias vezes e confesso que sou das que bateram palmas a tentar conter as lágrimas, pois tudo aquilo que vimos e ouvimos foi muito comovente. Hoje em dia as Orquestras Geração em Portugal já envolvem cerca de 700 crianças e jovens. É fabuloso ver como em apenas 4 anos tudo cresceu e se multiplicou desta maneira espantosa. Há 4 anos a 1ª orquestra tinha apenas 16 músicos.
A alegria em palco contagiou naturalmente a alegria na plateia. É giro ver a espontaneidade dos jovens músicos em palco, que tanto dançam enquanto tocam como estão impecavelmente alinhados, com solenidade e rigor. Fui com os meus pais e, ao meu lado, o meu pai comentou: "se fecharmos os olhos não percebemos se estamos a ouvir uma orquestra senior ou junior". Esta é a mais pura das verdades e daí também o sucesso deste programa. Aqui, como na Venezuela, onde o expoente máximo destas orquestras é a Simon Bolívar (orquestrada pelo lendário Gustavo Dudamel com paixão e nervo), estes miúdos tocam como grandes profissionais. Lindo!
Encontrei a Carminho e os seus músicos à entrada do Congresso Internacional de Cuidados Paliativos, que está a decorrer em Lisboa, no Centro de Congressos (a antiga FIL). Graças à persistência de Isabel Galriça Neto, médica paliativista e uma lutadora incansável na defesa desta causa a quem todos nós, portugueses, devemos uma nova consciência sobre os novos direitos e deveres em matéria de saúde, humanização e cuidados paliativos, a Carminho foi cantar três fados na sessão inaugural do Congresso.
Sou amiga da Carminho há uns anos e adoro a sua alegria contagiante. As suas gargalhadas e a sua maneira de ser marcam todos à sua volta e a mim deixam-me sempre mais feliz. Uso as palavras de José Eduardo Agualusa para dizer que também a Carminho tem o condão de iluminar as sombras à sua volta. Nas fotografias de cima estão também o José Manuel Neto, guitarra, o Didi (Daniel Pinto), viola, e o André Ramos, viola. Tocaram maravilhosamente e de cada vez que a Carminho se calou entre os fados, a casa veio abaixo com as palmas das mais de mil pessoas presentes. Lindo!
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