Todos os anos nós, os católicos, recordamos a Última Ceia de Jesus e o momento em que Ele se levanta da mesa para se ajoelhar e debruçar sobre os seus amigos apóstolos, a quem lavou os pés num gesto simbólico, revelador e indicador dos cuidados que devemos ter uns com os outros. Este gesto de bondade, ternura, humildade e generosidade marcou para sempre os que O seguem e acreditam que a bondade faz toda a diferença no mundo. Em Santa Isabel o Lava-Pés celebra-se assim: viram-se os bancos corridos para o longo corredor central e monta-se uma longuíssima mesa desde o lugar onde habitualmente é o altar, até à porta de entrada. Sobre esta mesa estende-se uma toalha de linho branco, impecavelmente engomada e imaculada, e em cima da mesa pousam-se cachos de uvas e frutos secos como tâmaras, nozes e amêndoas, mais as célebres ervas amargas. Distribuem-se vários cálices de vinho ao longo do infinito rectângulo e deixa-se espaço para o pão ázimo que há-de ser partido e repartido por todos os que comungam. Tudo posto por ordem, a repetir a Última Ceia (com o apurado sentido estético a que o padre José Manuel Pereira de Almeida nos habituou desde sempre), numa celebração que exalta o sentimento de pertença e o momento sagrado em que quase nos sentimos à mesa com Jesus. Esta missa começa às 19h e é de uma beleza tocante. Muito transformadora.
(Resolvi mudar a foto do Papa Francisco e trocar por esta, recente, quando ainda não tinha sido escolhido e andava de transportes públicos)
Muito inspirador, o novo Papa. Simples, directo, humilde, forte, sorridente, humano, tranquilo, capaz de se ligar instantaneamente às pessoas e passar uma mensagem poderosa. Gosto do estilo 'back to basics' com que inaugurou o seu Pontificado: um Pai-Nosso e uma Avé- Maria rezados em alto com a multidão, seguidos de silêncio para oração e interioridade. Também gosto muito do nome e da devoção por São Francisco de Assis.
Um Papa resigna por questões de saúde e debilidade física, mas também para permitir que a Igreja se renove. Grande liberdade interior, a de Bento XVI.
Num ano que se anuncia particularmente difícil e exigente, cabe-nos estar atentos ao que se passa em nós e à nossa volta. Ajudar os que andam mais frágeis e desanimados é um imperativo moral, mas importa percebermos também o que nos anima e desanima para estarmos vigilantes aos nossos movimentos interiores. Comecei há quase 4 meses os EEVQ (Exercícios Espirituais da Vida Quotidiana) que duram 9 meses e são a versão alargada dos EE (Exercícios Espirituais) de uma semana de silêncio orientado, que faço todos os anos, há cerca de 20 anos. Estes Exercícios da Vida Quotidiana também são inspirados na espiritualidade inaciana e requerem um tempo diário de leituras, meditação e oração. Demorei alguns anos a apanhar balanço para dar este passo, mas agora confesso que este tempo de silêncio diário, orientado por leituras e pontos de meditação que nos são dados pelos nossos orientadores espirituais, me ajuda incrivelmente a fortalecer o espírito e a manter o ânimo, apesar das dificuldades que também atravessam a minha vida. Ninguém está imune e todos atravessamos tempos adversos. De uma maneira ou de outra todos somos tocados por esta sucessão de crises e todos estamos interpelados pelo sofrimento que elas provocam. Nesta lógica, e porque me ajuda imenso seguir a orientação inaciana destes EEVQ, deixo aqui alguns pontos de interrogação (ou de oração, para os crentes) que podem ajudar no tempo inaugural deste ano novinho em folha: a que pensamentos interiores tenho que dizer vigorosamente que não, para não deixar instalar o desânimo? E que tempo tenho para descansar, sabendo que muitas tristezas também entram pelos cansaços? E, ainda, que decisão ou atitude está na hora de mudar para recuperar o ânimo?
Muito especial o entardecer no cais dos cruzeiros, hoje. Uma missa para centenas e centenas de pessoas celebrada por padres jesuítas mais o pe Delmar, capelão da Marinha que já fez várias viagens à volta do mundo em barcos e navios de guerra portugueses. Todos falaram de coisas simples e partiram do contexto em que estávamos para falar das viagens interiores que fazemos e dos caminhos que percorremos.
Dar de graça aquilo que recebemos de graça era o tema da homilia, e sobre a gratuidade falou Miguel Siqueira de Almeida com graça (passe a redundância) e inspiração. O sentido de humor acrescenta sempre alguma coisa ao que dizemos, porque tão importante como as palavras que usamos é a maneira como falamos. Nesta lógica, o pe Miguel sublinha verdades antigas com uma novidade discursiva que vem sempre muito ancorada no humor. É bom ouvi-lo falar com alegria e leveza de coisas profundas porque o impacto é enorme. Nuno Tovar de Lemos propôs o exercício de olharmos para nós e tentarmos perceber qual a viagem que estamos ou queremos fazer. Double sense, quero dizer.
O coro foi uma beleza e as vozes com o vento da tarde soaram ainda melhor. Muito bom.
O que é que Nuno Tovar de Lemos, padre jesuíta, tem a ver com velas, veleiros e marinheiros? Nada. Ou tudo, depende do ponto de vista e do dia da semana.
A partir desta 5ª feira, e até domingo, estarão em Lisboa alguns dos maiores veleiros do mundo. A Sagres é uma beleza e hoje uso a polaroid que tirei recentemente, no dia em que estive a bordo, para falar de uma dupla celebração a propósito de veleiros e fé. Como estava a dizer, entre 5ª e domingo a entrada é livre e todas as pessoas podem ir ao Cais dos Cruzeiros, perto de Santa Apolónia, ver o espectáculo fabuloso dos Tall Ships.
No dia da inauguração deste mega-acontecimento os jesuítas do Cupav - Centro Universitário Padre António Vieira - vão celebrar uma missa ao ar livre, com um cenário de cinema: os veleiros, os mastros e as velas ao entardecer, com um pôr-do-sol no horizonte líquido e a outra margem ao fundo. Todos os que quiserem ir podem ir, mas por uma questão de organização o Cupav pede para mandarem um mail a avisar que vão. Isto porque em cada uma das celebrações recentes na Lx Factory e depois, nas Ruínas do Carmo, estiveram quase mil pessoas.
Ver a maneira prática e poética como os jesuítas e voluntários improvisam o altar e transformam os espaços em lugares sagrados é outro filme. Habituados a celebrar para crentes, descrentes e cépticos, os jesuítas sabem que a estética importa e ajuda a entrar no espírito. Não vou perder esta missa como, aliás, não perdi a celebração da LxFactory nem a missa nas Ruínas do Carmo. Sem querer converter ninguém, mas porque sei que estes momentos são radicalmente marcantes até pela experiência estética, insisto, pelo silêncio, pela comunhão e pelos coros num espaço público, não resito a aconselhar este 'programa' para 5ª feira às 20h. Quem quiser ir mande um mail para aqui: missa.grandesveleiros@gmail.com
Nesta imagem Nuno Tovar de Lemos e Miguel Siqueira de Almeida faziam os últimos preparativos antes da missa nas Ruínas do Carmo. Estas celebrações são especiais para todos os que participam e também para quem acha que a Igreja está muito distante da realidade-real.
Vasco Pinto de Magalhães, jesuíta, vem a Lisboa fazer uma conferência de Quaresma no auditório do Colégio São João de Brito esta 5ª feira, às 21:15. A entrada é livre e aconselho vivamente esta palestra, mesmo a não crentes ou cépticos. Os que conhecem o pe Vasco sabem bem porquê, mas os que porventura não o conhecem, nunca o leram ou pouco sabem sobre ele, porque têm a oportunidade de ouvir falar um sábio, um homem erudito e simples, que fala da fé desta maneira: "Fé não significa acreditar ou não acreditar se Deus existe, embora a nossa cultura tenha muitas vezes relacionado fé com essa discussão teórica. Fé, crer, significa, à letra, 'apoiar-se em'. Devemos perguntar: "em quem me apoio? Em quem faço fé? Qual é o meu fundamento? Em quem confio?".
(Fragmento de citação retirada do livro Onde há crise, há esperança, Vasco Pinto de Magalhães, S.J., editora Tenacitas)
Dia de receber a visita do Tiago Azevedo Mendes para gravar o comentário mensal para o programa 70X7, que passa aos domingos de manhã cedo, logo às 9h. Desta vez falo sobre os filmes nomeados para os Óscares e o sentido da vida que fica plasmado em alguns deles. Logo à noite vou estar na Igreja do Campo Grande com o José Ribeiro e Castro, deputado e ex-eurodeputado, mais o pe Hermínio Rico, jesuíta, num debate promovido pelo Movimento Juntos Pela Europa, que tem como ponto de partida a interrogação "Europa, onde está a tua alma?". O encontro começa às 21h e a entrada é livre. Fica mais este convite para quem se interessa pelos temas da actualidade numa perspectiva mais humanista, por assim dizer. A ideia é revisitar a História, conferir o passado remoto e recente do projecto comunitário, tentar perceber a lógica de cada etapa de evolução neste já longo processo de construção da União Europeia, e avaliar o presente sem a tentação do 'indiferentismo religioso'. As raízes cristãs da comunidade europeia são um facto que nenhum historiador pode negar ou ignorar, e são também o património espiritual de todo o continente europeu. Como escreveu T.S.Elliot, "a força dominante na criação de uma cultura comum é a religião. Um europeu pode não crer nem viver a fé cristã, mas parte daquilo que pensa, diz e faz, surge como herança cultural cristã e adquire significado perante esta mesma herança". Esta noite cada um de nós vai dar o seu contributo numa discussão historico-filosofica, mas também política, cívica e espiritual. A mim cabe-me falar do valor do perdão e da importância da entreajuda, mas também da pior de todas as crises: a crise de memória, que ao apagar valores essenciais como a partilha e a conciliação, nos deixa a todos mais sós, mais vulneráveis e ... mais desalmados.
Tolentino de Mendonça, padre e poeta (entre muitas outras actividades em que deixa a sua marca, como os Estudos Bíblicos e as traduções dos padres do Deserto, para dar apenas dois exemplos) foi nomeado pelo Papa como consultor do Conselho Pontifício da Cultura. Deixo-lhe aqui os meus sinceros parabéns e um abraço intercontinental, uma vez que hoje em dia se divide entre Lisboa, NY e Roma. O nome do pe Tolentino de Mendonça, director do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura e professor da Faculdade de Teologia da Universidade Católica de Lisboa, foi apresentado pelo presidente do Conselho Pontifício da Cultura, o cardeal Gianfranco Ravasi. Grande pinta, esta nomeação. Mais que merecida, aliás, pois o pe Tolentino tem sido um grande construtor de pontes. Um verdadeiro pontífice.
Importei esta fotografia deste blog e já agora deixo aqui um copy paste das notícias sobre esta nomeação: Tolentino de Mendonça é um dos dez conselheiros de uma lista que inclui outros três padres professores universitários do Benim, Itália e Espanha, adianta a Rádio Vaticano. Seis leigos foram nomeados: o arquitecto espanhol, Santiago Calatrava; um professor de Filosofia, da Catalunha; um italiano especialista de Ciências Espaciais; Joachim Singer, cientista alemão, director do Instituto Max Planck; um professor de Física nos Estados Unidos; e ainda uma crítica de arte, responsável da Colecção de Arte Contemporânea dos Museus do Vaticano; e uma belga, directora de um Instituto para o Diálogo e Dinâmicas Interculturais, de Bruxelas.
O Santo Padre nomeou também oito membros do mesmo Conselho Pontifício da Cultura: os cardeais arcebispos de Kinshasa e de Washington; o presidente do Conselho para a Nova Evangelização, Salvatore Fisichella; outros dois bispos, o maestro, músico e compositor, natural da Estónia, Arvo Pärt, e o filósofo francês Luc Marion, professor da Sorbonne. Esta é a segunda nomeação de um português para aquele dicastério, recentemente. Em Novembro, o bispo auxiliar de Lisboa, Carlos Azevedo assumiu funções de delegado Conselho Pontifício da Cultura, na área dos bens culturais da Igreja.
Hoje há missa em fado no Chiado. Organizada por José Campos e Sousa, músico e compositor, esta missa fadista já é um clássico no coração do centro histórico da cidade. Deixo aqui o programa: QUANDO O FADO É ORAÇÃO
Domingo, 27 de Novembro, às 18H30 na Basílica dos Mártires, ao Chiado.
BERNARDO COUTO-GUITARRA PORTUGUESA
FILIPA GALVÃO TELLES-VOZ
JOSÉ CAMPOS E SOUSA-VOZ E GUITARRA CLÁSSICA
RICARDO MOTA - VIOLONCELO
nota: esta fotografia foi importada deste blog. Logo, depois da Missa, mudo-a e publico uma minha tirada nos Mártires.
. QUINTA-FEIRA SANTA: DIA D...
. Dupla celebração no Cais ...
. Vasco Pinto de Magalhães ...
. Comentários gravados e de...
. Tolentino, Conselheiro Cu...
. Hoje há uma Missa Fadista...