Comecei a trabalhar como jornalista na RTP há precisamente 33 anos. Entrei no dia 4.4.80 e todos os anos esta data me recorda um episódio inaugural, que se passou uns meses antes e marcou a minha vida profissional: candidatei-me à RTP quando entrei para a Faculdade porque li um anúncio no Expresso e achei graça responder, mas como faço anos em Dezembro andei sempre um ano adiantada e cheguei à Universidade com 17 anos. Ou seja, tinha 17 anos quando também fui admitida para um concurso já na altura muito disputado, entre centenas de candidatos. Depois de uma série de provas consegui ficar em 2º lugar ex-aequo com outro candidato, e no fim da entrevista que decidia tudo (e era feita por um júri solene e de certa forma intimidatório de 5 pessoas graves e sérias) fez-se silêncio e um dos elementos, que já morreu, disse:
- Muitos parabéns, ficou muito bem classificada e gostamos muito de si, mas como tem apenas 17 anos e a RTP é uma Empresa Pública não a podemos contratar.
Novo silêncio, mais demorado e interrogativo, comigo a tentar decifrar rapidamente o que tinha acabado de ouvir e não me fazia sentido nenhum. Se sabiam que não me podiam contratar, porque é que me deixaram chegar ao fim das provas e no fim fazer a entrevista? E eis que passado o suspense, o mesmo elemento júri avança para mim e declara:
- Muitos parabéns. Não a podemos contratar agora, mas como realmente gostamos de si, vamos esperar que faça 18 anos.
E assim foi. Estavamos no fim de 1979 e passados 6 meses entrei para a RTP, já com 18 anos feitos.
Este episódio ficou para sempre gravado na minha memória por todas as razões e mais algumas, mas acima de tudo pela confiança que depositaram em mim e pela gratidão que ainda hoje sinto por aquelas pessoas que mesmo sem me conhecerem e sem eu ter dado mais provas do que as que dei, apostaram em mim e ajudaram-me a traçar o meu futuro profissional. Hoje, passados 33 anos, olho para trás, volto ao momento da entrevista, e espero sinceramente ter estado à altura desta confiança.
P.S.: Esta fotografia foi tirada uns anos mais tarde, quando o Emídio Rangel me desafiou para inaugurar a moda das reportagens em directo para a TSF, feitas com jornalistas que atravessavam a cidade de mota. De manhã era eu e de tarde era o José Manuel Mestre. Bons tempos.
Todos os anos nós, os católicos, recordamos a Última Ceia de Jesus e o momento em que Ele se levanta da mesa para se ajoelhar e debruçar sobre os seus amigos apóstolos, a quem lavou os pés num gesto simbólico, revelador e indicador dos cuidados que devemos ter uns com os outros. Este gesto de bondade, ternura, humildade e generosidade marcou para sempre os que O seguem e acreditam que a bondade faz toda a diferença no mundo. Em Santa Isabel o Lava-Pés celebra-se assim: viram-se os bancos corridos para o longo corredor central e monta-se uma longuíssima mesa desde o lugar onde habitualmente é o altar, até à porta de entrada. Sobre esta mesa estende-se uma toalha de linho branco, impecavelmente engomada e imaculada, e em cima da mesa pousam-se cachos de uvas e frutos secos como tâmaras, nozes e amêndoas, mais as célebres ervas amargas. Distribuem-se vários cálices de vinho ao longo do infinito rectângulo e deixa-se espaço para o pão ázimo que há-de ser partido e repartido por todos os que comungam. Tudo posto por ordem, a repetir a Última Ceia (com o apurado sentido estético a que o padre José Manuel Pereira de Almeida nos habituou desde sempre), numa celebração que exalta o sentimento de pertença e o momento sagrado em que quase nos sentimos à mesa com Jesus. Esta missa começa às 19h e é de uma beleza tocante. Muito transformadora.
Importei esta imagem do facebook Humans of New York, porque gosto dela e estamos em vésperas de celebrar mais um Dia do Pai. Ainda que eu seja das que acham que Dia do Pai e da Mãe são sempre que nós quisermos (e, se possível, todos os dias!), este dia 19 de Março nunca deixa de ser um dia especial. Seja.
(Resolvi mudar a foto do Papa Francisco e trocar por esta, recente, quando ainda não tinha sido escolhido e andava de transportes públicos)
Muito inspirador, o novo Papa. Simples, directo, humilde, forte, sorridente, humano, tranquilo, capaz de se ligar instantaneamente às pessoas e passar uma mensagem poderosa. Gosto do estilo 'back to basics' com que inaugurou o seu Pontificado: um Pai-Nosso e uma Avé- Maria rezados em alto com a multidão, seguidos de silêncio para oração e interioridade. Também gosto muito do nome e da devoção por São Francisco de Assis.
Um Papa resigna por questões de saúde e debilidade física, mas também para permitir que a Igreja se renove. Grande liberdade interior, a de Bento XVI.
Voltei há uma semana dos Picos da Europa, de uma viagem inesquecível e incrível. Eu e um grupo de 8 pessoas percorremos o Maciço Central a pé, com mochila às costas, atrás do Tiago Costa, da NOMAD que nos guiou pelos caminhos de pedras e cascalho até aos picos mais altos, em alturas impensáveis.
O Naranjo é um pico de referência mundial para escaladores e aventureiros de renome mundial. Só grandes escaladores atingem o topo. Se olharem com atenção vêm dois escaladores a subir, são dois pontinhos escuros mais ou menos a meio da encosta (que, na realidade, é uma parede vertical descomunal).
O Tiago Costa criou a NOMAD, uma agência de viagens com destinos, trilhos e horizontes espectaculares. Especialista em viagens diferentes, o Tiago é um grande escalador e um verdadeiro montanhista. Inspira imensa confiança e é graças a ele e à sua experiência que nos superamos ao longo dos caminhos.
Para mim, que morro de vertigens e nem sequer consigo olhar para o fundo dos desfiladeiros quando estou em trilhos estreitos, era impensável descer este abismo de pedras mais ou menos soltas. Felizmente o Tiago consegue encher-nos de coragem e forças e lá descemos tudo, com a ajuda de cabos de aço.
As paisagens e climas nos Picos são de uma variedade fascinante. Nesta cordilheira cantábrica, a norte de Santander, existe uma diversidade ecológica fabulosa e todos os trilhos e caminhos se percorrem entre montanhas e vales de uma beleza esmagadora. Por vezes é mesmo de cortar a respiração...
Caminhámos entre 7 a 9h por dia, sempre com as mochilas carregadas e com a ajuda de bastões. O caminho é muito pedregoso e irregular e isso provoca um cansaço extremo, mas é impressionante ver como cada um de nós foi capaz de se transcender dia após dia. A força de um era a força de todos.
As longas caminhadas com subidas custosas e descidas penosas não foram fáceis, mas valeu a pena termos sido capazes de atravessar os Picos pelos seus trilhos mais adversos para ficarmos a conhecer lugares e povoações maravilhosas como Bulnes, com cascatas, casas lindas e muito bem cuidadas.
Chegar ao fim do dia ao albergue ou aos refúgios onde passámos as noites era uma espécie de oásis num deserto de poeira, calhaus de todos os tamanhos e rochedos com muros verticais que tinham que ser contornados e quase escalados. À nossa espera havia sempre uma cerveja fresca e um colchão macio.
Graças à experiência e paixão do Tiago pelos Picos da Europa, ficámos todos os dias em lugares de maravilha. Nunca terei palavras para exprimir a beleza do amanhecer e do entardecer, a solenidade dos montes, a majestade das pedras e das enormes sombras que projectam, nem a exuberância dos bosques...
Caminhar acima das nuvens ou entre aldeias de granito com o som da água a correr entre as pedras às horas de calor, mas também com o vento quente da tarde e a brisa fresca da noite. é uma experiência que não se esquece. Limpa o olhar, lava a alma e renova o coração. Enche de forças, alegria e gratidão
Atravessar os Picos da Europa a pé é uma combinação permanente de deslumbramento e superação própria. Éramos 8 desconhecidos à partida, mas não foi preciso esperar pela chegada para perceber que eramos um grupo era coeso, sem divisões nem quebras. O espírito de entreajuda funcionou em pleno.
Os bosques e vales dos Picos da Europa são um imenso devaneio. Exuberantes, frescos, magníficos, têm uma diversidade admirável. Há quem conheça mais a parte verde dos Picos do que a parte de pedras e rochas, mas pelo que vimos é uma pena ver umas partes sem ficar a conhecer as outras.
Os nevoeiros e neblinas são um clássico eterno neste tipo de montanha e de clima. Esta cordilheira vive numa proximidade quase irreal do mar Cantábrico e nela coexistem bosques atlânticos e mediterrânicos. Ou seja, tudo isto é uma espécie de Paraíso. Pensar que tudo isto está mesmo aqui ao lado é genial.
No penúltimo dia desta viagem subimos a grandes alturas e contornámos obstáculos aparentemente incontornáveis. No fim tivemos a melhor das recompensas: o refúgio Collado Jermoso, num pico muito alto e isolado. Chegar e ver uma casa com galinhas à beira do precipício foi uma miragem.
Muito mais impressionante ainda do que as galinhas é a mesa onde elas treinam os seus pequenos voos. Colocada mesmo à beira do abismo, tem uma vista espectacular sobre as montanhas e o fundo dos desfiladeiros. Aqui omemos um dos melhores petiscos da minha vida: queijo, marmelada e nozes.
Estar à mesa, nesta mesa de cinema, foi um filme que durou até ao pôr-do-sol. Não há vertigens nem medos que se atravessem nestes momentos em que o cenário é avassalador. Quando o sol fica a pique no horizonte todos se calam e o céu, as nuvens e os picos dos Picos ficam um poema.
Voltámos para casa à luz de lanternas, guiados pelo Tiago, mas também pelas estrelas. Dentro do Refúgio Collado Jermoso esperava-nos um jantar-ceia composto de sopa e dois pratos, servidos com pão que os guardas do Refúgio vão buscar todas as semanas a uma vila que fica a mais de 2h de distância.
Muito acolhedor, este refúgio. Aliás, este e todos os outros onde fomos ficando. Comemos em mesas compridas e dormimos em camaratas com beliches de madeira em camas confortáveis, mas aquilo que pode parecer estranho para alguns, na verdade revela-se muito aconchegante numa viagem como esta.
Na descida do Refúgio Collado Jermoso, e já do outro lado da montanha, ainda deu para tirar fotografias a tentar enquadrar a casinha isolada do refúgio. Se olharem bem percebem que ela está no cimo da montanhe, mais ou menos a meio da encosta do lado direito, com telhado preto e paredes de madeira.
A despedida dos Picos é um momento solene. Cada um fez o seu silêncio e aproveitou o momento para uma conversa interior. Eu, que sou de rezar, agradeci a Deus a viagem, o grupo, o Tiago, as paisagens e a capacidade de superação. Confesso que não me sabia capaz de tanto, sem treino nenhum!
Já no último albergue e em vésperas de regressar, o Tiago Costa desenhou no mapa de cada um os trilhos que percorremos e o caminho que fizémos. Ficámos impressionados com a nossa capacidade de nos transcendermos, sobretudo porque só nos últimos dias é que o Tiago nos disse que grande parte do caminho foi feito por trilhos considerados de extrema dificuldade. Ainda bem que ninguém nos disse nada à partida, porque senão não teríamos ido e ... não teríamos voltado com a certeza de que afinal não há obstáculos incontornáveis, tudo se consegue passo a passo, pedra a pedra. Acreditem que esta certeza vai ficar a fazer eco em mim pela vida fora e já me está a ajudar a ser capaz de muita coisa, no sentido literal e metafórico. Trouxe uma pequena pedra branca do caminho que vai ficar para sempre como a minha pedra da superação. Grande pinta de viagem, de grupo e de guia!
Muito especial o entardecer no cais dos cruzeiros, hoje. Uma missa para centenas e centenas de pessoas celebrada por padres jesuítas mais o pe Delmar, capelão da Marinha que já fez várias viagens à volta do mundo em barcos e navios de guerra portugueses. Todos falaram de coisas simples e partiram do contexto em que estávamos para falar das viagens interiores que fazemos e dos caminhos que percorremos.
Dar de graça aquilo que recebemos de graça era o tema da homilia, e sobre a gratuidade falou Miguel Siqueira de Almeida com graça (passe a redundância) e inspiração. O sentido de humor acrescenta sempre alguma coisa ao que dizemos, porque tão importante como as palavras que usamos é a maneira como falamos. Nesta lógica, o pe Miguel sublinha verdades antigas com uma novidade discursiva que vem sempre muito ancorada no humor. É bom ouvi-lo falar com alegria e leveza de coisas profundas porque o impacto é enorme. Nuno Tovar de Lemos propôs o exercício de olharmos para nós e tentarmos perceber qual a viagem que estamos ou queremos fazer. Double sense, quero dizer.
O coro foi uma beleza e as vozes com o vento da tarde soaram ainda melhor. Muito bom.
Hoje eu e o meu filho fizemos esta estrada quatro vezes, para trás e para a frente, de manhã e à tarde, por causa de uma mudança importante e marcante nas nossas vidas. Educar um filho para a autonomia, para a liberdade e a responsabilidade é um caminho longo e por vezes acidentado que vale a pena percorrer. Este dia fica para sempre assinalado como um marco no percurso de cada um. Hoje acordo e adormeço infinitamente grata a Deus, à vida, e de uma maneira especial aos meus pais, aos meus irmãos, ao meu sobrinho mais velho e aos amigos que estão mais próximos em dias como este.
Hoje o Diogo Vasconcelos faria 44 anos e não posso deixar de celebrar também aqui este dia e a sua vida. Por tudo, e também porque é a ele que devo este blog. Já o disse e não vale a pena repetir-me. Aqui fica a minha memória de um amigo que faz falta aos seus amigos, de um homem que faz muita falta à sua querida mulher, aos seus pais queridos, à sua família, a quem ele mais amava e mais o amou. O Diogo era e continuará a ser uma pessoa que faz falta ao país e que fazia a diferença no mundo.
Uma pata e quatro patinhos cruzaram-se no meu caminho esta tarde, nos jardins da Gulbenkian. Durante o instante em que nos acompanhámos uns aos outros não pude deixar de atrasar o passo, para evitar que se assustassem e fugissem. É tão improvável um encontro destes no centro da cidade, que apetece fazê-lo durar. Este momento já teria feito a minha tarde, se não fosse um encontro maior, mais à frente, já a caminho do 'planeta' Dialogue Cafe.
O Mia Couto estava a dar uma entrevista na Fundação Calouste Gulbenkian e desafiei-o a ir ter comigo depois à sala 3, a sala do Dialogue Cafe, onde está instalado o sistema de Telepresença da Cisco e onde me sento sempre que estou na Fundação. Este espaço é mais do que um sonho e no tempo em que não há sessões de DC, reina um silêncio e uma paz muito inspiradores para trabalhar. Esta tarde o privilégio maior foi poder explicar ao Mia o sistema do DC e combinar com ele uma sessão para breve. Grande pinta e grande surpresa.
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