Umas breves linhas solidárias para a família de Angélico, que vive dias e horas absolutamente trágicas, mas também para a família que perdeu um filho de 3 anos que se fechou sozinho dentro de um carro à hora do calor, com as portas e vidros fechados, e acabou por morrer já na ambulância, a caminho do hospital. Que duro e que difícil que é atravessar todos estes sofrimentos... Talvez possamos ficar ainda mais atentos a algumas questões que potenciaram estes dois desastres: a atenção à condução e ao uso do cinto de segurança, no caso do acidente de Angélico; a atenção ao paradeiro das crianças mais pequenas quando há muita gente à volta, em festas ou encontros de família, pois nas alturas de maior confusão e dispersão as crianças mais pequenas podem passar despercebidas e cometer erros graves como o que vitimou o Tiago. Junto a estas linhas mais umas para sublinhar a importância de não falar ao telemóvel e, muito menos, escrever mensagens, enquanto se guia. Como disse um médico agora no tempo em que o meu filho esteve hospitalizado, "se todas as pessoas que morreram na estrada por causa dos telemóveis pudessem voltar à vida, ficaríamos a perceber melhor a quantidade de gente que é vítima de um gesto comum, simples e aparentemente controlado". Eu diria que se a todos os que morreram acrescentássemos os que ficaram com sequelas graves e irreversíveis, veríamos que já é uma parte expressiva da população mundial. É impressionante, mas é verdade. Ainda bem que pessoas como a Oprah não se cansa de fazer campanhas contra o uso do telemóvel quando estamos ao volante!
Desde domingo que as imagens das enxurradas e do sofrimento dos madeirenses nos ocupa o coração e o pensamento. É difícil assistir em directo a mais esta tragédia. Neste momento soa-me absurda a legenda que a RTP insiste em manter no ar, enquanto a Judite de Sousa entrevista Alberto João Jardim (numa entrevista cheia de tricas políticas, nesta hora de grandes sofrimentos): "entre os mortos há uma turista". Seria natural que dissessem "há apenas uma turista" e isso descansaria os turistas reais ou potenciais. O excesso vem de dar a esta morte um valor de notícia 'acima de todas as outras notícias' e, aparentemente, sobrevalorizar a morte de uma turista em detrimento de dezenas de madeirenses. Não sei se me explico bem mas choca-me que em vez de nos determos nas mortes e perdas dos madeirenses, sublinhemos a perda de uma turista. Enfim, sensibilidades...
É impressionante esta estatística. E é chocante perceber como a vida pode mudar de um minuto para o outro porque alguém se dá ao luxo de escrever sms no telemóvel enquanto guia. Detesto ver pessoas a fazer isso ao meu lado e passo a vida a criticar os que atendem invariavelmente o telemóvel (sabendo que eu própria já atendi o telem no carro algumas vezes no passado, note-se) mas verifico que as pessoas não têm consciência dos danos irreparáveis que um gesto tão simples pode provocar. Uma amiga minha morreu ao volante desta maneira. Tinha pouco mais de 30 anos e dois filhos pequenos. Atendeu o telemóvel e o gesto de pegar no aparelho desviou o volante para fora da estrada. Esbarrou-se contra uma árvore e o impacto foi brutal.
Deixo aqui o link para um filme produzido para uma campanha contra o uso de telemóveis ao volante, em especial o uso e abuso dos que escrevem sms enquanto conduzem. O vídeo faz parte de uma campanha contra a escrita de SMS ao volante, usa imagens chocantes como ferramenta educacional, mostra um acidente de viação e está a ser exibido em escolas britânicas.
http://diario.iol.pt/internacional/acidente-sms-telemovel-tvi24-campanha-video/1083286-4073.html
"A polícia da região de Gwent, no País de Gales, recorreu a uma medida extrema para impressionar os jovens condutores, informa a BBC News.
As autoridades estão a usar um vídeo, que mostra três amigas que durante uma viagem provocam um violento acidente. A causa do acidente é uma distracção da motorista quando esta está a escrever um SMS, provocando assim a morte das suas amigas. O vídeo mostra também as operações de socorro.
Devido ao seu forte impacto, as autoridades decidiram usar o vídeo como uma ferramenta educacional e estão a exibi-lo nas escolas. O objectivo é reduzir os acidentes rodoviários entre os jovens britânicos.
Um estudo recente da RAC Foundation revela que 50 por cento dos jovens escrevem mensagens de telemóvel enquanto conduzem. Só que, escrever um SMS é mais perigoso do que falar ao telemóvel, porque os olhos se desviam da estrada em média seis segundos. Dados da Fundação RAC revelam que escrever um SMS reduz os reflexos do condutor em 35 por cento."
O Telejornal já vai a meio e daqui a pouco começa o novo programa de Salvador Mendes de Almeida. Deixo aqui a crónica que escrevi hoje no jornal i.
Outra notícia aflitiva para todos foi a morte de três crianças numa casa devoluta. Meia hora seguida de telejornais a dissecarem o acontecimento no próprio dia foi brutal. Pior do que os excessos das reportagens só a entrevista feita à mãe ontem no horário nobre do Telejornal. Revelar uma mulher em toda a sua fragilidade e até na ingenuidade de quem acredita que os outros acreditam nas suas palavras é uma maldade. E é uma tentação à qual os jornalistas devem resistir. Não se pode ligar a câmara e fazer perguntas a pessoas em estado de choque ou no auge do trauma. Com mais ou menos consciência, esta mulher perdeu três filhos e é legítimo viver o seu drama à sua maneira. Não se pode explorar a dor dos outros nem tentar provar a ininputabilidade de ninguém desta maneira. Não há direito! As perguntas e o tom da reportagem ontem fizeram-me lembrar uma das entrevistas mais chocantes que vi em televisão no dia em que a ponte de Entre-os-Rios desabou e, no mesmo instante, carros e pessoas foram engolidos pelas águas. Nesse dia alguém chegou perto de um homem que chorava a família inteira desaparecida na tragédia para lhe fazer a única pergunta que não se pode fazer: como é que se sente?
Como é que se podia sentir aquele homem, e como é que se pode sentir agora esta mulher? Sinceramente não sei o que vai na cabeça e no coração dos que se atravessam no caminho dos que sofrem para explorar o seu sofrimento! Nesta e noutras situações dolorosas e delicadas, em que as pessoas são tocadas nas suas fibras mais sensíveis, o silêncio e o respeito são sagrados. De preferência também longe das câmaras e dos focos.
Este pequeno vídeo mostra de forma eloquente que uma imagem vale
por mil palavras. Cerca de 250 alunos da Escola de Avelar esperaram
pelo Salvador no ginásio e bateram palmas quando entrou. Chegámos
com um atraso de meia hora devido ao mau tempo e aos enganos nas
estradas secundárias mas os alunos permaneciam firmes no seu posto.
Agora que cheguei a Lisboa depois de horas de estrada debaixo de chuva,
estou demasiado cansada para resumir o encontro extraordinário entre os
alunos e o Salvador. Há experiências tão intensas e tão comoventes que
precisam de tempo para assentar. Como amanhã é dia de escrever as
crónicas do Público de sexta, acho que vou guardar o tema para o jornal.
Agora não só estou cansada como também atrasada para a inauguração
da nova sede do MEP e, por isso, deixo aqui estes vídeos impressionistas:
um mostra o impacto que o Salvador tem nas escolas sempre que faz uma
campanha de sensibilização para os acidentes na estrada; o outro mostra o
tempo e as pessoas que foram precisas para o ajudar a descer um simples
degrau. Três pessoas e uma 'eternidade' para vencer 1 barreira arquitectónica.
Hoje quero agradecer à professora Lurdes Cotovio o convite para voltar à escola
e ao Salvador por existir e ser como é: alegre, forte, disponível e sempre capaz de
fazer das fraquezas, forças. Também quero agradecer aos meus amigos do blog
porque hoje ultrapassaram um número mítico para mim: 200 mil visitas. Obrigada!
Hoje acordei cedo para chegar a horas à Associação Salvador onde me vou encontrar com o próprio Salvador para irmos à Escola de Avelar (mais ou menos a meio caminho entre Lisboa e Castelo Branco) fazer uma acção de sensibilização junto dos adolescentes em idades de começar a guiar motas e carros. Esta é uma das campanhas mais impressivas de Salvador e aquela que mais provoca um debate aceso na plateia. Recordo que o Salvador ficou em cadeira de rodas aos 16 anos, após um acidente de mota que o deixou tetraplégico e passados 11 anos continua apostado em dar testemunho para que não aconteça aos outros o que aconteceu com ele.
Era uma noite de Verão e o Salvador voltava de mota de uma noitada de saídas e copos com os amigos. Apesar de não ter bebido demais, bebeu o suficiente para adormecer ao volante e se esbarrar numa rotunda. O acidente custou-lhe uma vida inteiramente dependente de terceiros para tudo mas não lhe roubou a alegria nem a vontade de construir um mundo melhor, despertando as consciências para as dificuldades acrescidas dos que têm handicaps físicos ou outros.
Para mim e para todos os que o conhecem, o Salvador é um exemplo extraordinário e um testemunho permanente de superação. Transcende as suas limitações de uma forma tão espantosa que nos comove a todos pois todos sabemos que não pode fazer nada sem a ajuda de terceiros. Não consegue sequer puxar o lençol para cima ou para baixo na cama se tiver frio ou calor durante a noite. E estou a dar apenas o exemplo de um gesto banal, que todos fazemos sem pensar e nem sequer implica grande esforço.
Apesar de ser dependente de terceiros para a sua vida do dia-a-dia, o Salvador é dos homens mais livres que conheço. Conheço outros como ele mas isso não faz dele menos completo. É impressionante a sua força interior e é comovente a sua alegria estrutural, mesmo nos momentos ou nas fases de maior quebra.
A vida não é fácil para quem está bem de saúde e ainda é mais difícil para quem sofre doenças ou tem sequelas graves de acidentes. E é sobre isto que o Salvador vai falar na Escola de Avelar com os alunos e os professores. Sobre isto e sobre o facto de acharmos sempre que os acidentes só acontecem aos outros. Ele também achava o mesmo.
No post anterior o Pedro comentou as imagens e disse que até
parecia uma festa. E era. Ou melhor, foi uma festa ao fim do dia.
Muitos acabaram por subir os quatro andares a pé e foi a melhor
opção pois o elevador ficou encravado 15m, tempo que pareceu
uma eternidade aos que estavam lá dentro. Já vivi um episódio
quase trágico com alguém que, ao meu lado, teve um ataque de
pânico e claustrofobia e posso garantir que é dramático pois não
há argumentos nem razões que ajudem a atenuar os sintomas...
Foi uma experiência traumática para a 'vítima' e foi difícil assistir
sem conseguir ajudar. Nessas situações as pessoas perdem a
capacidade de ser racionais e não ouvem nada nem ninguém. Eu
própria percebi a armadilha interior que trazem consigo e explode
nestas alturas. Foi um episódio que nunca mais esqueci, confesso.
A história de ontem acabou por ser quase divertida por estarmos
todos por ali e por não haver ninguém em sofrimento. Mas mesmo
assim não é agradável ficar preso num elevador. Outra história que
posso contar, essa sim bem mais desagradável, foi a de uma amiga
que ficou 6h presa num elevador daqueles que transportam os carros.
Ela trabalhava numa empresa cujo acesso à garagem se fazia através
de um elevador de carros e numa sexta-feira ao fim do dia, quando as
pessoas já estavam a ir de fim de semana, ficou presa dentro do carro,
dentro do elevador. O telemóvel não tinha rede e durante seis horas que,
essas sim, são uma verdadeira eternidade, ninguém soube do que se
passava. A assistência do elevador não funcionou e ninguém ouviu o
alarme e, por isso, esta minha amiga achou que estava condenada a
passar ali o fim de semana inteiro. Foi uma experiência muito dura e
ela sofreu bastante. Ao fim de 6h foi salva por um acaso: alguém voltou
ao escritório porque se tinha esquecido de alguma coisa e ouviu os seus
gritos e buzinadelas dentro do elevador. Se essa pessoa não tivesse ido
lá nessa noite o mais provável era ela ter passado muito mais horas presa.
O próprio filho não sabia dela nem imaginava onde pudesse estar e ainda
hoje quando penso neste episódio e nos contornos que teve, me assusta
a ideia de alguém ficar muitas horas preso num espaço fechado sem ajudas.
Cinco pessoas ficaram presas num elevador de um prédio de
Lisboa à chegada para um acontecimento ao fim da tarde. Fui
das últimas pessoas que subiram antes de o elevador encravar
e depois fui das que ficou a dar apoio moral aos que estavam
presos lá dentro. Sei imensas histórias de elevadores em que
as pessoas entraram em pânico com claustrofobia e, por isso,
fiquei por ali. Ninguém estava com medo nem era caso para tal
pois o elevador tinha portas à antiga e todos podíamos manter
uma conversa animada. Deixo aqui, por graça, um micro vídeo
do momento em que todos esperavam para poder sair. Desta
vez até correu bem mas às vezes as coisas não são tão fáceis...
P.S.: A Laura deixou um comentário com a breve mas intensa partilha
de um episódio vivido num elevador avariado e sugiro que mais pessoas
contem histórias de elevadores. Eu tenho duas e também posso contar.
Para quem sofre em espaços fechados pode ser uma catarse falar disto.
São duas e meia da manhã, está um frio de rachar e vim a
correr para casa porque não aguentei mais o vento gelado
da noite. Eu vim embora mas eles ficaram todos.Valentes!
Eles todos são três em cadeiras de rodas, mais o staff de uma
campanha organizada pela Associação Salvador, de prevenção
de acidentes rodoviários. A ideia de ir pela noite dar testemunho
a quem sai para bares e discotecas onde muitas vezes se bebe
demais foi do Salvador, que sabe por experiência própria o valor
dos conselhos que dá aos outros. Ficou tetraplégico por causa
de um acidente de mota numa noite de saídas e copos, e nunca
se esquece de nos lembrar que estas coisas não acontecem só
aos outros. Ontem e hoje, ele e o Carlos e o Helder andaram de
bar em bar pelo Bairro Alto a dar balões com mensagens úteis.
A campanha é original, inédita e radical. Nunca ninguém se
tinha lembrado de uma iniciativa destas e, daí, o interesse
das televisões em acompanhar três amigos em cadeira de
rodas que ficaram assim depois de terem tido acidentes de
carro ou mota. O testemunho de cada um vale por mil e mil
palavras que se possam dizer ou escrever. Mais: o facto de
darem do seu tempo aos outros e de andarem ao frio pela
noite de Lisboa a passar mensagens construtivas, sem ter
a tentação de moralizar, mas apenas com o objectivo de dar
bons conselhos que funcionam como alerta, é extraordinário.
Estes são alguns dos amigos e voluntários que andam com
eles pela noite. Gravei pequenas entrevistas com o Salvador,
o Helder e o Carlos que amanhã publico aqui ao princípio da
tarde pois o upload demora sempre mais do que eu gostaria.
As mensagens escritas nos cartões e autocolantes dos balões
são muito claras e objectivas: "Faz as figuras que quiseres mas
não pegues no carro se tiveres bebido; gasta dinheiro em Táxis;
fica em casa de uma amiga; faz a festa toda mas não pegues no
carro". Muito boa a ideia e muito corajosa a abordagem. Parabéns!
Nota final: como as entrevistas ficaram muito escuras deixo aqui apenas
a do Helder. Com imensa pena porque cada um deles dizia coisas muito
importantes e complementares. Na minha máquina as caras viam-se bem
mas depois do upload e de importar para aqui os filmes, a coisa ficou pior.
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