Recebi hoje as fotografias da celebração na Lx Factory e não resisto a publicar aqui 3 imagens de um momento único e radicalmente marcante. Entre andaimes, lages de pedra e tijolos antigos, a fábrica parecia uma verdadeira catedral onde nem sequer falta um vitral. Nuno Tovar de Lemos, padre jesuíta, foi muito inspirador, como sempre. Falou do nosso lado nocturno e do nosso lado diurno, da poesia e do sonho, mas também do activismo que tantas vezes nos consome e atrapalha a vida. Foi um tempo comunhão muito profundo e a meditação sobre estas e outras questões continua a fazer eco. Ainda bem que o Círculo Vieira existe e promove iniciativas como esta.
Dia de ir e voltar ao Porto gravar mais entrevistas para a nova série de programas. Vou com o propósito de voltar a horas de participar numa missa excepcional, celebrada num lugar improvável: a Lx Factory. Vai ser um momento memorável: cerca de mil pessoas num espaço a la Warhol , onde habitualmente se trabalha ou se sai à noite, mas desta vez para rezar e ouvir falar de Deus. A missa foi pensada pelo Círculo Vieira, uma organização dos jesuítas do Centro Universitário Padre António Vieira, e vai ser celebrada por Nuno Tovar de Lemos e Miguel Siqueira de Almeida, padres jesuítas que são dois dos maiores conversores de almas que conheço. Pelo exemplo que dão, pelo dom da comunicação (ler: pela maneira simples e contagiante como falam) e pela abertura de espírito com que acolhem crentes, descrentes, cépticos e duvidosos. A missa é às 21:15 e de entrada livre. Sintam-se convidados!
(As fotografias deste post são todas do fotógrafo Pedro Miguel Barreiros, cujo site é www.pmbarreiros.com)
Vou a caminho de Leiria, para gravar mais uma entrevista, mas não posso deixar de escrever umas linhas para falar do encontro de ontem à noite. Casa cheia, cheia, impressionante! Entre crentes, descrentes, cépticos e duvidosos éramos mais de mil pessoas (esta igreja tem um segundo andar, digamos assim, onde cabem tantas pessoas como as que cabem no andar de baixo, mais as laterais). Nunca tinha estado na Igreja de São Jorge de Arroios e confesso que não estava à espera desta adesão em massa para um serão de conversa sobre Deus. O serão foi muito profundo, mas também muito divertido e leve, com aquela leveza que vem da alegria de quem se reconhece no essencial, seja pela via espiritual, ética, humanista ou estritamente racional. Muito bom. Obrigada ao padre Paulo, pelo desafio/convite a participar, e obrigada a todos os que comentaram aqui ou lá, e estiveram presentes por pertencerem a este nosso círculo alargado de amigos. Mesmo muito bom, insisto.
Apetece-me imenso este serão e esta conversa. Gosto muito dos meus pares, Marcelo Rebelo de Sousa e Miguel Guilherme, e tenho a certeza de que vai ser um tempo bem passado, em que cada um de nós pode actualizar a imagem de Jesus Cristo. Deixo aqui o convite, para o caso de alguém querer ou poder aparecer para participar connosco nesta tertúlia espiritual, digamos assim. São muito bem-vindos e a entrada é livre.
Nunca na vida levei o telemóvel ligado para dentro de uma igreja, mas hoje liguei-o no fim da missa de despedida do pe Tolentino Mendonça, que está em vésperas de partir para NY, por ser um momento muito especial para todos nós os que o acompanhamos. Tolentino vai passar um ano inteiro em NY a aprofundar os seus estudos bíblicos, mas também a escrever o libretto de uma ópera, a convite da maestrina Joana Carneiro. Sei muito pouco sobre isto, mas o que sei e que a Mafalda Folque sublinhou num texto que escreveu e pediu para outro ler (não fosse ficar com a voz demasiado embargada) é que o pe Tolentino vai fazer muita falta porque tem uma maneira única de nos ensinar a "não ter medo de entrar sempre mais fundo no nosso coração, para dar sentido às nossas acções e sentimentos". Há tanta coisa que apetece escrever e dizer sobre o pe Tolentino que um blog inteiro não chegaria para conter as palavras e, por isso, talvez o mais sensato seja resumir tudo desta maneira: obrigada, querido pe Tolentino. Faça boa viagem e aproveite aquela cidade. Cá o esperamos!
Atrás de Tolentino Mendonça está uma pintura de Lurdes Castro, uma de quatro artistas que responderam ao desafio deste padre e criaram obras de arte para o espaço do altar da Capela do Rato.
Deixa que a respiração profunda
do teu Ser aconteça. Só isso. Não
interrogues, nem busques. Deixa
que seja Deus a procurar-te. Não
caminhes. Ele virá ao teu encontro.
Não procures contemplar. Permite,
antes, que Deus te contemple. Não
rezes. Deixa que, em silêncio, Ele
reze o que tu és.
in Um Deus que Dança, José Tolentino Mendonça
Hoje é o penúltimo dos 4 dias de Retiro Aberto orientados pelo pe Tolentino Mendonça no Mosteiro das Monjas Dominicanas, entre Telheiras e o Lumiar. Tenho ido todos os fins de tarde ouvir a conferência do pe Tolentino, seguida de meia hora de silêncio e meditação (ou simples contemplação), mais uma missa celebrada na capela do Mosteiro.
Ontem fui de boleia com a Ana Maria Bénard da Costa e o Alberto Vaz da Silva, dois grandes amigos que tenho em comum com o pe Tolentino. As monjas Dominicanas acolhem-nos todos os dias entre as 18h e as 20h nos jardins, que são lindos e estão impecavelmente bem tratados. A variedade de flores e a quantidade de árvores deste lugar sagrado são uma beleza e contrastam com o aglomerado de prédios construídos à volta e fora dos muros do Mosteiro.
Tolentino Mendonça falou sobre a alegria partindo de uma interrogação inaugural: "temos que nos perguntar pela alegria, como anda a nossa alegria?". Dissertou longamente sobre a alegria cristã e explicou que não se trata de um consolo emocional, mas de uma arte de ser com verdade, bondade e beleza. Recordou Nietzsche quando este disse que "o cristianismo seria mais credível se os cristãos parecessem mais alegres" e sublinhou que o pior são os moralismos, as intransigências e tudo aquilo que nos traz ansiedade e amargura, ou nos impede de aceder à alegria autêntica. E citou Kierkegaard: "a angústia é o nosso veneno mortal".
Estes dias de Retiro Aberto têm sido um enorme privilégio para crentes e não crentes, pois o pe Tolentino abre as suas conferências a uns e outros e deixa-nos a todos infinitamente mais próximos. Estas conferências são de entrada livre e como acabam amanhã não queria deixar de chamar a atenção para os últimos fins de tarde neste sítio maravilhoso onde o tempo parece ter outro tempo.
As portas do Mosteiro estão abertas a quem quiser aparecer, basta chegar e entrar. As monjas Dominicanas moram entre Telheiras e o Lumiar, no cimo da Av. Rainha Dona Amélia. Quem quiser ir tem que atravessar a Praceta Rainha Dona Filipa e sair pela direita, por detrás dos prédios. Não é nada evidente, mas uma vez aprendido o caminho nunca mais se esquece! Esta noite os crentes estão de olhos virados para Fátima e, por isso, não quero distrair ninguém com o lembrete dos meus programas, mas quem quiser vê-los na televisão, pode fazê-lo esta noite pelas 23:30 ou amanhã a partir das 19:30, sempre na RTP 2. De qualquer das formas amanhã o segundo episódio vai estar aqui no blog, no Vimeo, no Facebook e no Youtube.
Uma viola azul encostada a uma parede encarnada foi o quadro que encontrei à chegada ao Telhal. Os trinta voluntários da Juventude Hospitaleira que foram passar a Páscoa ao Telhal levaram guitarras para animar os doentes e os seus cuidadores. Durante o dia os jovens voluntários espalham-se pelas unidades e dão assistência aos doentes, orientados por profissionais, mas à noite juntam-se em grupo e fazem serões de conversa e música que podem durar até de madrugada.
O grupo de voluntários impressiona pela alegria, mas também pela média de idades: este têm entre 15 e 25 anos. Confesso que embora já conheça bem o espírito dos voluntários da Juventude Hospitaleira, não deixo de me espantar com a capacidade de entrega, a generosidade e a gratuidade destes miúdos que podiam estar a passar as suas férias de mil e uma maneiras divertidas e leves, mas preferem dar o melhor de si e do seu tempo aos doentes mentais internados no Telhal.
João Nuno Baptista, o fotógrafo ocasional, é uma presença diária no meu blog e foi um dos meus anfitriões hoje. O convite/desafio para ir ao Telhal partiu dele e é giro perceber como fomos ficando amigos ao longo dos últimos anos a partir deste espaço virtual, que acaba por ser muito mais do que um simples blog e se revela uma ponte que aproxima pessoas que se reconhecem nos valores, ideias e ideais. O João Nuno também foi um dos meus alunos no Curso de Comunicação na LeYa e como este grupo se revelou um mix fascinante de pessoas, foi interessante reencontrar mais colegas na Páscoa do Telhal.
Os miúdos voluntários são uma animação permanente e enchem o espaço de uma vibração especial. Adorei estar com eles nas celebrações de Sexta-Feira Santa e depois numa roda de conversa e partilha que se estendeu desde o lanche até à hora de jantar. Cada um dos voluntários disse-me quem era de onde vinha, e todos me comoveram quando falaram sobre as razões que os trazem regularmente ao Telhal. Na impossibilidade de os citar a todos ou de enunciar as razões de cada um, sublinho o que disse o Ricardo Borrego, de 16 anos (o que está à direita na fotografia a agitar o braço): "é a sexta actividade em que participo aqui no Telhal e basta-me um sorriso de um doente, para eu ficar todo contente e dar sentido a isto. Nós somos voluntários, mas todas as pessoas deviam vir aqui e conhecer estas pessoas." Eu não seria capaz de dizer melhor e concordo inteiramente com o Ricardo, pois o contacto com os doentes mentais profundos é muito tocante e profundamente transformador.
No fim acabámos por fazer mais uma 'fotografia de família', mas desta vez em petit comité: o João Nuno, a Sónia, eu e a Gabriela, com a filha Sofia a esconder-se no seu ombro. Eles os três foram meus alunos do curso de Comunicação na LeYa e é fantástico ver que os laços que tecemos ao longo das semanas do curso se reforçam agora na vida real, através de encontros como o de hoje, em lugares especiais como este. Muito bom.
Hoje às 3h da tarde estarei a celebrar esta hora maior com dezenas de jovens que fazem voluntariado no Telhal, com os doentes psiquiátricos e com a equipa de profissionais, cuidadores e religiosos ligados a esta instituição. Vai ser uma Sexta-Feira Santa diferente de todas as outras que tenho vivido ao longo da vida e agradeço o convite-desafio do João Nuno e do Irmão Alberto.
José Manuel Pereira de Almeida, padre e médico, pároco de Santa Isabel (e não só) e Assistente Religioso da Cáritas Portuguesa (entre muitas outras actividades e missões que desenvolve ou nas quais se envolve), é conhecido pelo seu dom de atrair os jovens à Igreja, mas também por abrir as portas a gerações e gerações de crentes e descrentes. As missas celebradas por ele transformam todos os que o acompanham ao longo dos anos e deixam marcas muito impressivas em quem o ouve apenas pontualmente, seja numa missa de enterro, de sétimo dia ou em ocasiões especiais em que se celebra uma vida, um casamento ou um baptizado. Nestes dias a sua igreja enche-se de famílias e grupos nem sempre formados por católicos praticantes, e é curioso ouvir os comentários dos cépticos ou dos mais duvidosos à abertura de espírito do pe Zé Manel, como é conhecido. A mim também me impressiona muito a sua capacidade de acolher e de incluir. Percebo que vive apostado em não excluir ninguém e em abrir o coração à diversidade de dons dos outros. Last but not the least, o pe Zé Manel tem um sentido estético muito apurado e recria cenas e cenários bíblicos de forma muito cinematográfica. A mesa da Última Ceia, para a missa do Lava-Pés na 5ª feira Santa é um clássico incontornável. Há anos que vou a esta missa e espanta-me sempre a beleza e o sentido de tudo. Comove-me profundamente e saio de lá de alma lavada e coração limpo. Eu e todos, acho eu.
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