Bernardo, meu amigo muito querido, obrigada por tudo o que nos deste, que foi tanto e durante tantos anos. Obrigada pelo piano tocado para nós, por nós. Obrigada pela generosidade sempre, pela alegria dos momentos mais e menos musicais vividos entre amigos, pelas conversas todas, pelo entusiasmo pelas ideias de cada um, pela confiança em nós, pela originalidade do teu olhar, pelo desenho oferecido de um código de barras com música pintado com tinta da china. Obrigada pela maneira como ouvias e ensinavas a ouvir, por tudo o que aprendemos contigo, através de ti. Continuas no nosso coração até ao fim dos tempos. Em nossa casa passou a haver piano e mais música por causa de ti.
Chocadíssima com esta perda. Escasseiam as palavras. O meu respeito. A minha admiração pelo seu trabalho. E um profundo pesar. De facto ,«... só Deus tem os que mais ama.... »
De Filipa Pinto Ribeiro a 12 de Maio de 2012 às 10:38
O som do seu piano ecoará dentro de nós para sempre.. O mundo ficou mais pobre, mas estou certa que a sua música continuará a preencher o vazio que a sua morte deixou. Obrigado Bernardo por tudo o que, talvez sem saberes, nos deste!
A sua música é a minha música, a música de que eu gosto, tão misturada de silêncio, do meu silêncio e do dele... Não merecíamos? Deixou-nos algum dos seus bens, contribuindo para o nosso bem e para o bem de todos e a beleza do mundo. Mas...
Não queria deixar de me juntar à sua bonita homenagem ao Bernardo Sassetti.
"Querido Bernardo,
Primeiro, trouxeste-me o jazz. Umas vezes, vinhas com amigos – o Pedro e o Mário – e enchias toda a casa: começaste na sala, depois passaste para o escritório e finalmente entraste no meu quarto. Mais tarde, chegaste à ilha dourada: acompanhavas os serões de férias, na hora do banho, preenchendo a cor do silêncio que lentamente se esbatia, com a despedida do sol do Porto Santo. E trazias o cheiro dos tremoços e dos amendoins e das toalhas salgadas. Outras vezes, vinhas sozinho. E era assim que eu mais gostava de ti. Eras a alma de uma Alice que eu não conhecia mas acreditava ser a tua grande amiga, e talvez por isso julgasse que era ouvindo vezes sem conta a sua voz que melhor te conheceria, acreditando no velho provérbio que, também vezes sem conta, me repetiam: “Diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és.”.
Depois, vieste no Francisco. Chegaste num tempo em que não havia tempo, em que as horas moravam nas teclas pretas e brancas, que eu acreditava serem também a tua morada. Nesse tempo dos meus nove ou dez anos, apareceu o Francisco. Trazia um lindo sorriso, surpreendentemente parecido com o teu, e acompanhava pequenos pianistas que, tal como eu, moravam naquele tempo sem tempo, naquela morada distante onde habita a inocência e onde não há lugar para invernos ou receios. Foi em Vila Praia de Âncora que nos conhecemos, num concurso de piano, e não imaginas a alegria que foi para mim conhecer o teu irmão. Quando temos heróis, queremos habitar no seu reino, ver as mesmas paisagens, conhecer os mesmos cheiros e sabores, ouvir a mesma canção, ser parte da sua família. E o Francisco fazia parte de tudo isso, fazia parte de ti. Ah, esqueci-me de te confessar a minha felicidade ao ouvir os elogios do Francisco, encantado ao ver-me ao piano... E mais encantada fiquei eu, pensando que, como irmão, partilharias da mesma opinião!
Finalmente, chegaste no nome de Bernardo Sassetti! “Vi claramente visto” o génio que ias soltando desde a minha infância. E comovi-me com a tua sensibilidade, com a tua musicalidade, com o teu talento infinito, com a tua presença envolvente e absoluta. E com a tua doce timidez, quando, de olhos postos no chão, falavas à plateia imensa de olhos postos em ti.
Perdoa-me a singeleza das palavras que consegui encontrar. A comoção tem destas coisas: bloqueia a procura do que te é devido - de palavras que expressem o quanto te estou grata pela música que generosamente me ofereceste, pelas noites de bons sonhos que o teu piano acompanhou, pelos serões no fim da praia, pelos maravilhosos concertos a que assisti, pela minha enorme paixão pela música que ajudaste a construir desde sempre. Obrigada."
Lamento imenso. E obrigada por nos ter, mesmo num dia tão triste, dado uma aula tão boa! Duma já antiga seguidora do seu blog (apesar de não o ter partilhado na aula!),
Muito querida, Mariana. Muito obrigada por esta tua mensagem, acredita que fez a diferença no meu dia. Esta tarde também me dei conta de que o vosso grupo, a vossa turma, e esta nossa aula de 4h seguidas na Universidade logo de manhã, salvaram este meu dia no sentido em que cada um de vocês me acrescentou imensa alegria e vida. Obrigada, eu, portanto. Por tanto, quero dizer. Um abraço e mais uma vez muitos parabésn pelo talento literário-narrativo :)