Impressionante a quantidade de gente que se juntou ontem à volta do Mia Couto, apesar da chuva e do frio, para o ouvir falar do seu novo livro, para conversar com ele e ter mais um autógrafo. Comecei a ler o livro e já estou adiantada, mas já em fase de poupar páginas. Acontece-me sempre que leio um livro muito bom. Começo a demorar, para a leitura durar mais tempo. É uma espécie de batota que todos os leitores fazem com os seus autores preferidos. Com o Brodsky foi sempre assim: os livros pousados antes de chegar ao fim, para esticar o tempo e ter a ilusão de perpetuar a narrativa. A Confissão da Leoa é, como disse José Eduardo Agualusa, um livro inaugural, um livro radical, uma nova maneira de o Mia contar uma história. Desta vez ele parte de uma narrativa duríssima, de uma realidade brutal mas que parece irreal: em 4 meses 26 pessoas de uma povoação moçambicana foram devoradas por leões e é sobre este acontecimento que o autor recria uma história, um livro trespassado de dor e humanidade, mas também de surpresa e mistério. Não vale a pena escrever muito mais, porque tudo o que eu possa dizer fica aquém, muito aquém, e nem sequer faz justiça ao livro nem ao autor. Se puderem, leiam, é muito bom.
"Um acontecimento real - as sucessivas mortes de pessoas provocadas por ataques de leões numa remota região do norte de Moçambique - é pretexto para Mia Couto escrever um supreendente romance. Não tanto sobre leões e caçadas, mas sobre homens e mulheres vivendo em condições extremas. Como afirma um dos personagens, 'aqui não há polícia, não há governo, e mesmo Deus só há às vezes"
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