Sábado, 10 de Março de 2012
Livros, estórias e memórias antes de adormecer

Não resisto a publicar esta fotografia no blog, depois de ter pedido autorização aos pais do B, porque não resisto ao ar sonhador nem à beleza deste miúdo. É ainda mais bonito do que está na fotografia e é o filho do meio de dois amigos muito queridos. A hora de dormir, depois do caos dos banhos e jantares, é sempre um momento de intimidade para pais e filhos. Tenho saudades desses tempos, confesso. O tempo é uma vertigem e se bem que todas as idades tenham o seu fascínio, os primeiros anos de um filho são inesquecíveis. Há um par de dias, quando publiquei um post sobre ler e escrever, disse aqui que voltava ao tema para deixar um fragmento de um dos meus livros de cabeceira, que me faz rir e me comove sempre que o leio ou releio (e é sempre como se fosse a primeira vez, é impressionante). Falo d'O Velho Que Lia Romances de Amor, de Luís Sepúlveda, que tive o prazer e o privilégio de conhecer em casa, e com quem passámos um serão memorável. Aqui fica, com a imagem infinitamente terna do B e os meus votos mais que sinceros de um bom fim de semana! 

 

 

(...) António José Bolivar sabia ler, mas não escrever.

O mais que conseguia era garatujar o nome quando tinha de assinar  qualquer papel oficial, por exemlo, na época das eleições, mas, como tais acontecimentos ocorriam muito esporadicamente, já quase se tinha esquecido.

Lia lentamente, juntando as sílabas, murmurando-as a meia voz como se as saboreasse, e, quando tinha a palavra inteira dominada, repetia-a de uma só vez. Depois fazia o mesmo com a frase completa, e dessa maneira se apropriava dos sentimentos e ideias plasmados nas páginas.

Quando havia uma passagem que lhe agradava especialmente, repetia-a muitas vezes, todas as que achasse necessárias para descobrir como a linguagem humana também podia ser bela.

Lia com o auxílio de uma lupa, o segundo dos seus pertences mais queridos. O primeiro era a dentadura postiça.

Vivia numa choça feita de canas de uns dez metros quadrados dentro dos quais arrumava o seu escasso mobiliário: a rede de dormir de juta, o caixote de cerveja com o fogão a querosene em cima, e uma mesa alta, muito alta, porque quando sentiu pela primeira vez dores nas costas, percebeu que os anos lhe estavam a carregar e decidiu sentar-se o menos possível.

Construiu então a mesa de pernas compridas, que lhe servia para comer de pé e para ler os seus romances de amor (...)

 

publicado por Laurinda Alves às 00:02
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2 comentários:
De viguilherme a 11 de Março de 2012 às 16:15
É de surreal desde a foto até ao texto de José A.Bolivar.... onde a magia do imaginário poético do ler repetindo repetindo até nele se incorporar e ser parte do seu escutar do seu sussurrar do seu devanear e ....ser uma nova pele que o acompanhava no seu explorar juntamente com a lente e a dentadura .....lembra nos "Cem Anos de Solidão "a vinda do cigano Melquiades em visita á aldeia (no mes de Março )de José .A Buendia trazendo as ulimas invenções do mundo por ele entretanto explorado.....como o IMAN ferros mágicos que davam vida ás coisas E ATÉ OS PERDIDOS ERAM ENCONTRADOS .....A LUPA e o OCULO descoberta dos judeus de AMESTERDÃO ..em que qualquer dia o Homem pode ver o que se passa em qualquer lugar da TERRA .(APREGOAVA O CIGANO )...e novo ano MARÇO e desta vez trouxe a DENTADURA podendo sorrir no dominio da sua juventude restaurada ....e José dizia "estão acontecer coisas incriveis no mundo "....e de Homem empreendedor da aldeia passou a ir atraz dos sonhos e das maravilhas do mundo .....e regressou com novos saberes ...e novamente os ciganos vierm e trouxeram um bloco transparente onde se despedaçava estrelas de mil cores com a luuz ....era o maior diamante do mundo mas não ...era gelo .....outro invento grandioso ....
e a exploração do José mantem-se e sua saga ....e Melquiades que se julgava morto regressa á vila onde todos sofriam de insónia e perca de memória e trouxe desta vez um frasco com um liquido suave que reconstituiu a memória ás gente e lá ficou a viver com eles ....e a história continua ...... vagabundos /piratas do mundo exploradores de arcas de tesouros difundem saberes novos ollares no mistério da vida a desvendar .....
De S.Silva a 11 de Março de 2012 às 21:07
Boa noite Laurinda
Parabéns pelo seu excelente blogue:)
Para quando um post sobre a surdez súbita ou sindrome de meniere?
Grata pela sua atenção

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