Quarta-feira, 22 de Dezembro de 2010
Unidos no amor, contra a indiferença. Não percam!

 

Tirei um dia inteiro para ler este livro sem interrupções e li-o, da primeira à última página, sem fazer pausas. Trata-se de um livro-testemunho, que afinal é muito mais do que isso. É um hino ao amor, uma narrativa a quatro mãos sobre os verdadeiros encontros na vida. Escrito por Isabel Barata e Manuel Matos depois de se terem conhecido e apaixonado, este livro prende do princípio ao fim. Não se consegue pôr de lado, tal é a verdade e a profundidade a que vamos com cada um dos autores. Manuel, o amor da vida de Isabel, morreu a 27 de Maio de 2009, a menos de 2 meses de completar 55 anos. Era licenciado em Germânicas, foi professor do Ensino Secundário, escreveu contos e poesia, dirigiu uma revista e foi co-fundador da APN - Associação Portuguesa de Doentes Neuromusculares. Isabel, o amor da vida de Manuel, faz este mês 43 anos, licenciou-se em Economia, trabalhou na área Administrativa e Financeira, fez voluntariado e hoje em dia dedica o seu tempo às questões de Desenvolvimento Pessoal. Um e outro viveram realidades duras e a sua história é uma sucessão de desafios e adversidades. Ou seja, de grandes conquistas.

 

 

O amor entre a Isabel e o Manuel transformou as suas vidas e este livro que escreveram juntos transforma o nosso olhar. Não se trata de uma obra romântica e muito menos de um olhar romantizado sobre a realidade das pessoas que vivem condicionadas por uma doença grave ou handicaps físicos. Muito pelo contrário, é uma narrativa muito realista de uma mulher que sofre de Osteogénese Imperfeita e um homem que vai perdendo faculdades e movimentos devido a uma doença degenerativa e progressiva a nível muscular. Melhor do que eu, fala cada um dos autores:

 

Manuel

Fui assistindo paulatinamente (às vezes, em acessos violentos e mudos) à minha própria 'desconstrução'. Não é confortável, isto de uma pessoa assistir ao desagregamento do seu puzzle; é muito perturbador um ser normalmente inteligente manter-se confrontado com a consciência desse desagregamento.

 

Sou um ser humano vulgaríssimo. Rendi-me vezes sem conta às emoções. Sofri a brutalidade de um desastre que não sofri, mas que se foi desdobrando no curso da minha existência. Em algumas (não poucas) ocasiões, deixei-me cair, como diria Pessoa, de mim abaixo, quer dizer, cheguei à certeza de que o único objectivo para a minha vida era a minha morte.

 

Jamais poderei abraçar, com os braços, o meu Amor, sei isso sem ter necessidade que ninguém mo diga. Não serei nunca o apoio (estereótipo) físico da mulher que amo. Mas porventura não haverá outras dimensões do abraço, porventura não haverá outras dimensões do conceito de apoio? (...) Com certeza que há.

 

A crença de que um dia havia de chegar em que eu amaria e seria amado, ou seja, a fé no poder desse sentimento que dá Sol à Vida e mil vidas ao Sol, defendeu-me sempre de mim mesmo, encorajando-me a continuar, segredando-me que a desesperante solidão de hoje tinha pelo menos 50% de probabilidades de não se repetir amanhã - não importava a eventual eternidade que 'amanhã' contivesse. Esse dia chegou em finais de 2005.(...) Esse foi, sem qualquer dúvida, o Momento da minha vida.

 

"Desvivi" até aos 50 anos, quando pela primeira vez ouvi alguém dizer (a Isabel, pois claro) gosto de ti, sem acrescentar apesar de seres como és.

 

Isabel

 

Para começar, quero dizer que não é o facto de se ser ou não deficiente que influencia, que potencia, a forma de amar ou ser amado. (...) ser ou não ser deficiente não faz qualquer diferença.

 

Não podemos negar que há obstáculos circunstanciais (a nível físico, mental ou sensorial) na vivência amorosa das pessoas com deficiência, mas um obstáculo não é mais do que algo que pode ser contornado. (...) Quando há amor, os obstáculos passam a ser desafios.

 

O meu professor de meditação, Ishi, disse-me várias vezes, quando passei por uma fase de apatia e ausência de energia vital, que o único erro que para ele era imperdoável, era o de desperdiçar tempo.

 

Podia continuar o enunciado de citações, mas o livro é tão rico em pensamentos, partilhas e vivências que aconselho vivamente a sua leitura. Foi publicado pela editora Quidnovi e está à venda nas livrarias. Deixo aqui o links para um site em que a Isabel tem uma presença muito expressiva e onde pode ser contactada: www.gulliver.pt Se não encontrarem o livro nas livrarias, perguntem à Isabel onde o podem encomendar, que ela diz. Eu tive que fazer o mesmo e embora não a conheça pessoalmente (ainda), foi um processo muito rápido.

publicado por Laurinda Alves às 14:30
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18 comentários:
De Anónimo a 22 de Dezembro de 2010 às 19:29
Querida Laurinda obrigada.Obrigada por nos levar sempre mais fundo ,mesmo quando os dias correm velozes e quase não há tempo para parar...
Já não vinha aqui há algum tempo e quando li o que hoje nos deixou ,experimentei o Advento que este ano ainda não tinha experimentado.
Uma coragem imensa ,uma dor sublimada e o grande Amor...outro presépio.
Para si um bom Natal e um ano de 2011 cheio de alegria !gd bjnh Nicha Tojal
De Laurinda Alves a 22 de Dezembro de 2010 às 20:31
Nicha querida eu é que agradeço a quem me faz dar estes mergulhos em profundidade... às vezes são os leitores do blog, com as suas partilhas; outras vezes são pessoas que nem sequer conheço (como os autores deste livro) e outras ainda são as 'Nicha Tojal' da vida quando me envolvem nas suas causas solidárias, humanitárias e/ou espirituais :) Obrigada, eu, portanto. Por tanto, quero dizer.
De Mariana a 22 de Dezembro de 2010 às 20:20
Querida Laurinda,

que livro me aconselha sobre diferenças entre homens e mulheres (na sua graça, divergência e pontos comuns) um livro bem disposto, bem apanhado e inteligente...

Alguma sugestão?
Muito obrigada! Beijinhos*
De Laurinda Alves a 22 de Dezembro de 2010 às 20:33
Querida Mariana assim de repente não tenho nenhuma sugestão porque não conheço nenhum livro divertido sobre a matéria. Nunca li aqueles mais conhecidos do tipo Men are from Mars/ Women are from Venus, e por isso não faço a menor ideia se são divertidos ou têm a ver com aquilo que está a pensar. Só vendo... Desculpe não ter ajudado grande coisa :) Abraço e bom Natal!
De Mariana a 22 de Dezembro de 2010 às 20:38
Obrigada na mesma =)
Um Natal muito feliz!
De Laurinda Alves a 23 de Dezembro de 2010 às 11:52
Mariana, lembrei-me de um vídeo do Youtube sobre as características tipicamente femininas e tipicamente masculinas que vale a pena ver. Confesso que não adoro a pose excessiva e os gritos histriónicos do comentador, mas acaba por ter graça algum exagero em algumas partes. Pesquise em: tale of two brains. Mais um abraço
De Teresa Lopes a 22 de Dezembro de 2010 às 20:23
Laurinda,
"Isto" não é um post. É um presente de Natal. É serviço publico. É muito mais do que possivelmente tiveste intenção de aqui deixar.
Agradeço-te, verdadeiramente emocionada, este testemunho tão inspirador.
Vou comprar. Vou ler. E vou provavelmente demorar-me muito mais tempo na sua leitura, pois tenho um hábito compulsivo, que me dá imenso prazer (apesar de me atrasar imenso na leitura de qualquer obra), que é ler e reler, vezes sem conta, os trechos que me tocam a alma.
Obrigada, mais uma vez.
Beijinho grande
Teresa
De Laurinda Alves a 22 de Dezembro de 2010 às 20:35
Querida Teresa, acreditas que tocaste no ponto e disseste a coisa certa?! Hoje senti que este era o presente de Natal que queria oferecer aos leitores do blog e eis que tu o recebes exactamente nesse registo. Grande pinta e grande sintonia. Que bom existir aqui esta espécie de 'entendimento de sensibilidades'. Um abraço de Natal :)
De Teresa Lopes a 22 de Dezembro de 2010 às 23:23
Que maravilha! :)
E que abraço bom!
Vale sempre a pena ir passando por aqui... :)

Um Natal muito feliz, querida Laurinda.
Beijinho
De Maria Helena P. Ribeiro a 22 de Dezembro de 2010 às 22:49
Querida Laurinda, um Natal sereno.

O Presépio somos nós
É dentro de nós que Jesus nasce
Dentro deste gestos que em igual medida
a esperança e a sombra revestem
Dentro das nossas palavras e do seu tráfego sonâmbulo
Dentro do riso e da hesitação
Dentro do dom e da demora
Dentro do redemoinho e da prece
Dentro daquilo que não soubemos ou ainda não tentamos

O Presépio somos nós
É dentro de nós que Jesus nasce
Dentro de cada idade e estação
Dentro de cada encontro e de cada perda
Dentro do que cresce e do que se derruba
Dentro da pedra e do voo
Dentro do que em nós atravessa a água ou atravessa o fogo
Dentro da viagem e do caminho que sem saída parece

O Presépio somos nós
É dentro de nós que Jesus nasce
Dentro da alegria e da nudez do tempo
Dentro do calor da casa e do relento imprevisto
Dentro do declive e da planura
Dentro da lâmpada e do grito
Dentro da sede e da fonte
Dentro do agora e dentro do eterno

Tolentino Mendonça
De Laurinda Alves a 23 de Dezembro de 2010 às 11:54
Maravilha, Helena! Obrigada de todo o coração. Por onde andas tu, que deixei de te ver desde que o autocarro do MEP esteve estacionado no Rossio :) De vez em quando leio-te aqui e fico com mais saudades. Um abraço enorme. Está tudo em ordem (you know what I mean!)
De Isabel a 22 de Dezembro de 2010 às 23:24
Obrigada Laurinda pela sua partilha. Vou pedir ao meu marido para me oferecer este livro. Será a sua prenda de Natal. Um Santo Natal para si e para todos os que por aqui passam. Um bom ano de 2011. Isabel.
De Laurinda Alves a 23 de Dezembro de 2010 às 11:57
Isabel, acabei de acrescentar um parágrafo final no post sobre este livro porque percebi que é difícil encontrá-lo nas livrarias e como eu própria o recebi das mãos da Isabel (que não conheço pessoalmente e teve a delicadeza de me fazer chegar o livro num dia especial), sugiro que lhe pergunte a ela directamente como conseguir um exemplar. Ela lhe dirá. Um abraço para si e Bom Natal!
De Raquel Martins a 23 de Dezembro de 2010 às 09:42
O caminho da Felicidade nem sempre é um caminho fácil. É um caminho sinuoso, cheio de pedras e tempestades que por vezes, nos desmoralizam, e desanimam.Que muitas vezes, nos obrigam a parar para pensar. No entanto, o Amor vence sempre!
E por muitas voltas que o Mundo dê, por tantas dificuldades que se enfrentem, nada nos demove daquilo que é uma linda história de amor. A minha foi assim...e apesar de tantas interrogações, dificuldades, preconceitos diversos, o AMOR VENCE SEMPRE! Esta é a história do Natal, a história do presépio, que tem uma Virgem Maria que têve ao seu lado o melhor dos companheiros, que aceitou o millagre do Espírito Santo, contra os preconceitos e os comentários de uma época cheia de constrangimentos históricos. É a história de um pai, que não sendo biológico deu ao seu filho o melhor do coração. É a história da Família, na sua mais profunda comunhão de sentimentos e generosidade...Venceu preconceitos, maldades e deslealdades, porque o Amor vence Sempre! Votos de um Feliz Natal para si e para todos! Que o Amor vença sempre nos nossos corações! beijinhos.
De Laurinda Alves a 23 de Dezembro de 2010 às 12:03
:) Um abraço de Natal, querida Raquel.
De Anónimo a 23 de Dezembro de 2010 às 17:34
Querida Laurinda não resisti em deixar-te aqui o meu "eterno" agradecimento...
Porque sei que agora seremos lidos e entendidos por mais pessoas que entendem bem o lado "espiritual" do Amor!! Não estou a falar de Amor Platónico, nem de Amor Impossível porque para mim tal como para o poeta António Gedeão, o "Sonho comanda a Vida" e eu também acredito que o VERDADEIRO AMOR TUDO VENCE!!
o meu contacto é: isabarata36@hotmail.com
De Zilda Cardoso a 23 de Dezembro de 2010 às 22:17
Tocante!
De Blogue Tetraplégicos a 26 de Dezembro de 2010 às 14:42
Já li e reli este livro, e será para sempre um dos meus livros preferidos. Imperdível!
Recomendo-o porque nele temos a realidade e o que de melhor existe no AMOR.
Sou tetraplégico, como o Manel o era, e revejo-me em inúmeras situações que transcreve.
Obrigado por ajudar a divulga-lo.
Fique bem

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