Domingo, 3 de Fevereiro de 2008
Cuidados paliativos
 
A minha experiência como voluntária em Cuidados Paliativos, à cabeceira de doentes crónicos e terminais, prova que é possível viver com qualidade e dignidade até ao fim. Falo de uma realidade que conheço cada dia melhor e revela uma prática científica muito completa e extraordinariamente humana. Comove ver a maneira como os profissionais de saúde especializados em Cuidados Paliativos cuidam dos doentes e lidam com as doenças. É importante, aliás, sublinhar a distinção entre a doença e a pessoa doente porque infelizmente ainda há muitos médicos e enfermeiros que insistem em ignorar os doentes e investem apenas no tratamento das doenças. Falo de todos aqueles para quem um doente é um número ou uma cama, falo dos que evitam o olhar interrogativo ou suplicante dos que sofrem por não quererem ou saberem dar resposta e falo dos que passam ao lado dos doentes acamados ou terminais porque acham que já não há nada a fazer. Falo de um sistema perverso que permite que os mais frágeis e vulneráveis sejam sujeitos a tratamentos desumanos. No sentido clínico mas também no sentido do acompanhamento pessoal.
Agora que percorro regularmente os corredores hospitalares percebo com mais alcance a diferença abissal que existe entre hospitais com ou sem unidades de cuidados paliativos. Nuns as pessoas são tratadas de forma humana e a abordagem clínica embora complexa é sempre feita com base numa aliança terapêutica celebrada com o doente e a sua família; noutros os doentes são classificados como ‘casos perdidos’ e são muitas vezes abandonados ou esquecidos. Um dia até posso escrever um tratado sobre as pessoas que diariamente são negligenciadas nos serviços de saúde só porque são velhas ou estão à beira da morte. Conheço casos tremendos de abandono e ouço testemunhos inconcebíveis, alguns deles que envolveram crianças e jovens em fase terminal. Horroriza-me o abandono dos doentes e apavora-me esta classe médica que se recusa a aceitar a inevitabilidade da morte ou que a encara como um fracasso seu. E foi por me repugnar esta atitude que fiz o curso de voluntária em Cuidados Paliativos e é por conhecer cada vez melhor esta outra classe de profissionais de saúde que aposta na vida bem vivida até ao fim que não posso deixar de dar os parabéns a todos e a cada um dos profissionais especializados e, em particular, à Isabel Galriça Neto que acaba de ganhar um prémio justamente por ser quem mais tem lutado pela causa dos Cuidados Paliativos no nosso país.  
publicado por Laurinda Alves às 19:17
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3 comentários:
De Joana a 12 de Abril de 2008 às 16:48
Sou voluntária numa Unidade de Cuidados Paliativos.
Deixo-lhe uma citação maravilhosa e que serve pata TODOS - "Não assuma que é tarde demais para se envolver" Mitch Albom.
De Francisco Moura a 29 de Abril de 2008 às 23:18
MAIO - ENTRADA EM VIGOR DA CONVENÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE OS DIREITOS DOS DEFICIENTES

Querida amiga,

Venho dar-te conhecimento de um assunto que me parece da maior relevância. Inundados diáriamente por "sound-bytes" agressivos e inócuos, creio que o assunto que me leva a esvrever-te não tem merecido qualquer destaque entre nós.

Em Dezembro de 2007, a ONU aprovou uma Convenção sobre os Direitos dos Deficientes. No passado dia 3 de Abril, o Equador depositou o seu instrumento de ratificação (20º Estado a completar este processo), o que significa que a Convenção e o respectivo Protocolo Facultativo entrarão em vigor no próximo dia 3 de Maio.

Aguardaremos, com enorme expectativa, que os 106 países que já assinaram estes documentos completem os respectivos processos de ratificação.

O documento abrange as áreas civil e política, definindo importantes normas sobre a inclusão social, educação, saúde, emprego e protecção social.

Portugal está de parabéns. Foi um dos primeiros Estados a proceder à assinatura e ratificação depósito da Convenção e do respectivo Protocolo Facultativo.

Competirá agora ao Estado português iniciar um longo trabalho legislativo para eliminar leis, costumes e práticas discriminatórias dos cidadãos portadores de deficiência. Compete à chamada “sociedade civil” - e obviamente a todos nós - acompanhar este assunto com redobrado interesse.

Gostaria de destacar mais alguns aspectos desta Convenção:

Uma Comissão independente formada por especialistas irá receber relatórios dos países que ratificarem a convenção e acompanhará a forma como os Estados-parte procedem à sua aplicação.

Creio que se trata da primeira Convenção aprovada no século XXI.

O Protocolo Facultativo à Convenção permite que grupos e indivíduos apresentem petições legais ao Comité de Direitos das Pessoas com Deficiências, caso estejam esgotadas as vias de recurso a nível nacional.

Os textos poderão ser consultados no site do Gabinete de Documentação e Direito Comparado da Procuradoria-Geral da República:

http://www.gddc.pt/direitos-humanos/textos-internacionais-dh/universais.html
ou no site das Nações Unidas
http://www2.ohchr.org/english/law/disabilities-op.htm

Abraço amigo,
Francisco Moura

PS: Arquitectos, Engenheiros Civis, Advogados, Juízes, Médicos, Economistas, Assistentes Sociais, Vereadores de Camara acho que não perdem nada em começarem a interessar-se pelo assunto. Basta andarmos todos os dias pelos passeiros de Lisboa e nos transportes publicos.

Interessem-se: por eles, por nós todos.

De maria costa a 29 de Outubro de 2008 às 09:22
Estou a desenvolver um plano de realações públicas sobre a nova unidade de cuidados paliativos a ser iniciada no inicio de 2009 no hospital de Portalagre. Gostaria de entrar em contacto com a Laurinda no sentido de trocar umas ideias sobre o tema.

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