Quinta-feira, 18 de Junho de 2009
Entrevistas que chocam e perturbam

Outra notícia aflitiva para todos foi a morte de três crianças numa casa devoluta. Meia hora seguida de telejornais a dissecarem o acontecimento no próprio dia foi brutal. Pior do que os excessos das reportagens só a entrevista feita à mãe ontem no horário nobre do Telejornal. Revelar uma mulher em toda a sua fragilidade e até na ingenuidade de quem acredita que os outros acreditam nas suas palavras é uma maldade. E é uma tentação à qual os jornalistas devem resistir. Não se pode ligar a câmara e fazer perguntas a pessoas em estado de choque ou no auge do trauma. Com mais ou menos consciência, esta mulher perdeu três filhos e é legítimo viver o seu drama à sua maneira. Não se pode explorar a dor dos outros nem tentar provar a ininputabilidade de ninguém desta maneira. Não há direito! As perguntas e o tom da reportagem ontem fizeram-me lembrar uma das entrevistas mais chocantes que vi em televisão no dia em que a ponte de Entre-os-Rios desabou e, no mesmo instante, carros e pessoas foram engolidos pelas águas. Nesse dia alguém chegou perto de um homem  que chorava a família inteira desaparecida na tragédia para lhe fazer a única pergunta que não se pode fazer: como é que se sente?

Como é que se podia sentir aquele homem, e como é que se pode sentir agora esta mulher? Sinceramente não sei o que vai na cabeça e no coração dos que se atravessam no caminho dos que sofrem para explorar o seu sofrimento! Nesta e noutras situações dolorosas e delicadas, em que as pessoas são tocadas nas suas fibras mais sensíveis, o silêncio e o respeito são sagrados. De preferência também longe das câmaras e dos focos. 

publicado por Laurinda Alves às 12:33
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De Augusto Küttner de Magalhães a 18 de Junho de 2009 às 13:06
Mas assumindo que sim, dado que o que aqui estou a referir em nada que a atinge, bem pelo contrário.
Acho vergonhoso o aproveitamento que os “média” dão a estas verdadeiras desgraças! Não se pode, não se deve tratar de ânimo leve situações tão graves, tão complicadas. Não têm o direito os médias – alguns – de entrar por esta via! Ainda para mais que como todos sabemos o intuito não é de modo algum ajudar a resolver estes dramas, é unicamente aumentar audiências, com a desgraça alheia! E tem resultado, mas é obrigação de todos e de cada tentarem que todo este sistema se inverta. Que haja dignidade e respeito quando se fazem estas abordagens! Temos que aprender a viver em democracia, com democracia, e com cidadania, mas tudo em seu sítio. Muito está por ser feito neste nosso país, muito tem que ainda ser feito.
De Laurinda Alves a 18 de Junho de 2009 às 14:55
Dignidade, respeito são palavras-chave no exercício da cidadania livre e responsável. Concordo inteiramente. Daí a minha indignação pela exposição pública do sofrimento dos que sofrem com ou sem sentido. Abraço!
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