Hoje o Metro estava vazio. Ninguém nas carruagens e quase
ninguém fora, nas plataformas. A imagem dos lugares que
nos habituamos a ver povoados de gente e, de repente, não
têm ninguém é extraordinária. E incrivelmente pacificadora...
Hoje pus uma música no repetidor do meu Ipod e ouvi-a para
lá e para cá. O piano tocado por Glenn Gould nesta paisagem
subterrânea soou a uma espécie de banda sonora dos filmes
bons. Daqueles filmes que nos transportam para uma realidade
distante, que nos fazem mergulhar numas águas profundas, que
nos enchem de nostalgias e de uma vontade irreprimível de sermos
capazes de decifrar alguns mistérios da vida. Como a dor e o amor.
E agora que fechei os olhos lembrei-me de uma viagem ao Egipto este ano
e procurei aqui no blog o texto que escrevi sobre esse tempo feliz. Aqui fica:
Viaja incansavelmente porque sabe que um dia pode ter que deixar de viajar. Não a assusta a morte mas apenas a ideia de um tempo parado e denso de espera, em que não é ela que vai e leva, mas os outros que chegam e trazem. Gosta de ser ela a dar e gosta muito de caminhar. De ir ao encontro dos outros, de procurar e achar.
Leve e alegre, sorri com tudo e ri por nada. Contagia os que estão à sua volta sempre. Tem uma luz própria que nada nem ninguém conseguirão nunca apagar. Uma luz que ilumina as sombras, que dá mais claridade ao ar, que enche de ternura e dá mais confiança ao andar.
Magra e elegante, sempre foi muito alta e decidida mas agora que os anos se foram sucedendo e acumulando quase sem darmos por eles, já não parece assim tão alta. Mas tem o mesmo passo firme e a mesma agilidade de sempre. Os ombros estão menos rectos mas o cabelo está mais bonito. Os olhos continuam verdes e limpos. Lindos.
Parece uma rapariga sonhadora. Ou um anjo feliz, não sei bem. Encanta-me a sua alegria e comove-me a pureza de intenções com que vive. Como se os sucessos, os fracassos e todas as lágrimas derramadas lhe tivessem lavado a alma e purificado ainda mais o coração puro.
Vejo-a caminhar entre as pedras antigas, subir aos montes mais altos, errar entre as ruínas dos templos originais, procurar a sombra das colunas e dos muros para se sentar e ficar a olhar. E sento-me e espero por ela. E olho-a para a fixar quando ela não me está a ver. Preciso de o fazer para quando deixar de a ter. E depois ela olha, sorri e vem ter com as duas filhas e vamos as três pela rua de mãos dadas, esquecidas das horas, dos outros e de tudo o que existe à nossa volta.
Que saudades de Lisboa... Aaaaaaaaah, quase a fazer dois anos que migrei para norte, de vez em quando dá assim um aperto de saudade... o rio, a luz, o Chiado, o Príncipe Real, o 28 até à Estrela, a estação de metro do Campo Pequeno com as mulheres de Francisco Simões...
Olá Laurinda, há muito tempo que tento seguir o que escreve porque me aquece a alma e me enriquece. Nunca comentei consigo nada do que li, sempre fui daquelas pessoas que lê, pensa e tenta crescer com isso. Parte do que leio, partilho com amigos, coincidências giras, a última foi um post seu antigo que encontrei sobre Anish Kapoor , por quem fiquei fascinada o ano passado em Chicago e que até então desconhecia por completo... mas de facto, só agora quando li este seu post passado, sobre uma viagem ao Egipto, me fez dar o passo para lhe enviar um Olá sorridente! tão bonito e tão forte! Eu tenho a graça de o sentir também com a mãe que tenho mas também sinto aquele equilíbrio frágil que tende a acontecer e que me arrefece. Obrigada pelas suas partilhas que me ajudam a ver.
Que texto maravilhoso em que as palavras são tão puras, tão claras, tão transparentes, tão sentidas, que até me paece estar a assistir a tudo o que nele descreve. Que senhora maravilhosa que a sua mãe é. Agora já sei a quem a Laurinda sai... embora o mérito continue a ser sempre seu!
De Augusto Küttner de Magalhães a 6 de Janeiro de 2009 às 14:17
Interessante trazer para aqui este texto que escreveu aquando esteve no Egipto. Um destes dias pós-festas, entre-estas, já não me lembro quando, m/ mulher eu dormimos sem hora para acordar, acordamos sem hora para almoçar, e pensamos que depois de se comer demais e menos bem nestes dias qualqur coisa"abafaria alguma fome! Fomos ao NorteShopping, havia estacionamento a mais, estranhámos, mas pensámos que seriam todos dorminhicos, como nós, mas não! tava tudo fechado, excepto alguns locais do piso de restaurãção, onde comemos algo simples. Depois passeámos pelos corredores vazios de um C. Comercial que costuma estar a abarrotar de gente, que estranho tudo tão calmo, tudo tão siencioso...tudo tão diferente! Estes locais habituam-nos a ter muita gente e não a estarem vazios de Pessoas!