Sexta-feira, 19 de Dezembro de 2008
Os pedófilos 'amigos' das crianças

(Imagem de uma campanha recente feita no Brasil

 
Há nomes que vale a pena fixar e o de João Sarmento Pereira é um deles. Neste caso pelas piores razões. Ouvi este nome no Telejornal no princípio da semana, no mesmo dia em que foram presos em Espanha 121 suspeitos de envolvimento numa das maiores redes de pornografia infantil.
 
A rede é um terrível polvo de mil tentáculos que espalha o mal pelo mundo e a própria polícia espanhola revelou que o material apreendido continha fotos e vídeos arrepiantes feitos com bebés e crianças muito pequenas.
 
A sequência de notícias relativas a abusos de menores neste dia começou com a divulgação das prisões feitas pelas autoridades espanholas e seguiu para o caso português de João Sarmento Pereira, de 21 anos, acusado de 6 crimes de abuso sexual a menores e condenado a dois anos e meio de cadeia, a quem foi concedida a liberdade a troco de tratamento psiquiátrico.
 
Por razões que ultrapassam o entendimento do comum dos mortais, este abusador de crianças retomou a sua vida normal e cumpre agora uma pena suspensa com toda a liberdade e apenas a obrigação de ir a umas consultas no psiquiatra. Acho extraordinário que assim seja e acho muito grave que este homem possa continuar a exercer a sua profissão de professor primário.
 
Para percebermos o que está em causa e avaliarmos a extensão deste fenómeno de benevolência judicial vale a pena voltar aos factos e apresentar o professor. A acreditar no que vi e ouvi na televisão e não vi desmentido depois em lado nenhum, este rapaz começou aos 18 anos a estagiar num colégio em Carcavelos onde tinha um contacto diário muito próximo com as crianças. Um contacto muito íntimo, para sermos mais exactos.
 
O rapaz ajudava as crianças a vestirem-se e despirem-se para as aulas de ginástica e fazia-se valer da sua supremacia física para abusar das crianças e as assustar ao ponto de elas não serem capazes de contar em casa o que lhes acontecia na escola. Tanto quanto percebi houve abusos mais graves e menos graves mas eu, que não sou juiz mas sou mãe, considero tão grave a ‘manipulação dos genitais’ de uma criança como a violação ou ‘tentativa de penetração’.
 
Admito que os que julgam precisem de evidências físicas de violação para condenar mas sei (todos sabemos!) que não é preciso haver consumação da violação para deixar marcas indeléveis numa criança e traumatizá-la para sempre. E este é o ponto sobre o qual assenta a minha argumentação sobre um caso que me parece eloquente de uma brandura excessiva e de uma leviandade intolerável.
 
Falo da brandura dos juízes e da leviandade de quem permite que este homem mantenha a sua carteira profissional de professor primário, podendo exercer a profissão num meio em que a proximidade física de crianças pequenas pode potenciar situações de abuso como as que ficaram provadas no passado recente.
 
Compreendo as mães e pais das crianças abusadas que foram ouvidas pelo jornalista e apareceram na televisão em contra-luz para não se ver a cara. Estou solidária com a sua indignação e a sua dor porque não se trata de uma vingança mas sim da mais elementar justiça. Como é que um rapaz que fez o que fez aos seus filhos pode estar em liberdade e continuar a ser professor primário?
 
Será que os juízes e os especialistas que os aconselham não sabem que o pior pedófilo é sempre o ‘maior amigo das crianças’? É sempre o que parece bom, que se faz amigo, que se torna confiável e depois usa todo este capital de simpatia e proximidade para actuar com frieza, premeditação e perversidade.
 
Ou será que os juízes acreditam sinceramente que o rapaz está profundamente arrependido e não vai repetir? Há estudos científicos que provam que esta compulsão para o abuso sexual de menores pode durar uma vida inteira e mesmo que neste caso haja um forte arrependimento é inquietante saber que alguém condenado por seis crimes de abuso sexual anda por aí à solta e mais tarde ou mais cedo vai voltar à escola e ao contacto com as crianças que, por definição, são o seu alvo preferencial e as potenciais vítimas.
 
Quem nos garante que este homem fica curado com um tratamento psiquiátrico? E quem se responsabiliza pelo seu acompanhamento, pela sua evolução mental e moral, e se responsabiliza por ele no futuro? É essencial fazer as perguntas porque alguém tem que ter as respostas para o deixar em liberdade permitindo-lhe continuar a ser professor primário.
 
Se insisto em deixar escrito o nome deste homem não é para o voltar a condenar pois não me compete a mim fazê-lo, mas para que mais pais e directores de escolas saibam com o que contam se lhes bater à porta um homem que sendo professor traz consigo outras credenciais.
 
Como cidadã e como mãe tenho o dever e o direito de sublinhar as minhas reservas quanto a casos destes, em que aparentemente não houve reparação dos danos nem sequer a obrigatoriedade de prestar serviço cívico na comunidade para dar de volta parte daquilo que roubou.
 
Na impossibilidade de devolver a integridade física, moral e emocional às crianças que abusou e de reparar o sofrimento que lhes provocou a elas e às suas famílias, devia existir a obrigação de cumprir uma pena cívica que o reabilitasse a ele e, ao mesmo tempo, nos desse a nós a certeza de que este homem está apostado em regenerar e em conquistar a confiança que neste momento ninguém pode ter nele até conseguir provar o contrário.
 
Repugnam-me os pedófilos e tarados cuja compulsão é repetir o crime de abuso sexual a menores. Nesta lógica confesso que defendo a castração química para alguns dos condenados por este tipo de crime. Mais do que uma medida de protecção para os nossos filhos e ainda mais do que um castigo aos abusadores é um favor que lhes fazemos pois é raro o que não volta ao local do crime mais do que uma vez.
 
Há quem ache uma medida excessiva mas assumo que, para mim, seria a medida certa. Não percebo porque é que havemos de continuar a acreditar mais na voz de um criminoso do que nas das suas vítimas. 
 
     
publicado por Laurinda Alves às 18:15
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9 comentários:
De Manuel Pereira a 19 de Dezembro de 2008 às 21:54
Infelizmente vivemos numa sociedade,onde em certa medida,os criminosos têm mais direitos,que as vítimas,co a agravante de neste caso se tratar de crianças,que deveriam ser ainda mais protegidas
Um bom fim de semana,e deseo as melhoras do seu filho
De padeiradealjubarrota a 19 de Dezembro de 2008 às 23:32
Tenho a mesma opinião. E depois, paira um silêncio estranho sobre este tipo de crime.
De Anónimo a 19 de Dezembro de 2008 às 23:33
A medida preconizada só peca por não ser excessiva. Além da castração (química é pouco e mansa), deviam ficar marcados na testa, para toda a gente saber do que são capazes. Até porque está mais que provado estatisticamente, que eles tornam sempre a voltar ao mesmo.
Cumprimentos e Feliz Natal e Ano de 2009.
De Zilda Cardoso a 20 de Dezembro de 2008 às 08:21
Estou completamente de acordo consigo. É deprimente, desencorajante, frustrante sentir a injustiça da Justiça.
A população reconhece esses criminosos, mas a justiça oficial permite que não sejam castigados e que continuem a cometer os s/ crimes. Dá-lhes essa oportunidade, como se fosse possível corrigir o que é uma tendência diria natural neles. Não creio que haja medidas excessivas nestes casos. E da n/ parte só pode haver indignação, zanga e tanta tanta pena... Será que a propósito de justiça não podemos fazer nada? Podemos, queremos, sabemos... vamos fazer!
De Augusto Küttner de Magalhães a 21 de Dezembro de 2008 às 12:38
Zilda neste caso como em outros, vamos necessitar que a justiça funcione, depressa e bem. Veja-se o caso Casa Pia!!!!!!!!!!!!vejam-se casos de mediatismo e uns quanto!!!!!, vejam-se estes casos de banqueiros hoje e agora!!!! não funciona!!!!!e!!!!!!!!!
De Anónimo a 20 de Dezembro de 2008 às 13:12
Utilizei terminologia semelhante à sua quando diz como "cidadã e como mãe"...
Só serviu para ser acusada desde mania de perseguição até "punição" em termos de carreira
Coerencia não é "promovível"
Bem mas sabemos que está descrito, que infelizmente
estes individuos recidivam e patologicamente ou não tb não consideram que fazem grande mal
Até já encontrei quem acha que estou doente porque a minha tolerância ao diferente não engloba esta aceitação correctiva
De facto o Menino Jesus vai fazer anos e nós em vez de darmos pedimos para conseguir ainda acreditar que se não justiça pelo menos alguma decência nas decisões seja tomada.
De Augusto Küttner de Magalhães a 22 de Dezembro de 2008 às 15:15
Anonimo, faz um comentário muito interessante. Parabéns!
De Vera Baeta Lima a 20 de Dezembro de 2008 às 13:53
Conheço pessoalmente este caso . Os filhos do Prof. de surf do meu filho nº2 andavam neste colégio. É incrível!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
De Álex a 22 de Dezembro de 2008 às 15:03
o dito João SP não estagiava no colégio, aparecía ao fim do dia, despois das suas aulas, porque o seu irmão menor estudava lá e ambos esperavam que a mãe os fosse buscar à tarde. quería ser professor primário e admirava um dos prof. (homem) da dita escola - dizia ele.
Era novo, simpático, escuteiro, prestável e bom rapaz...pensavamos.
parece que corre pela net um abaixo assinado de uns dos pais "implicados" sobre este assunto

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