- Cativou-me este estilo de música, porque tem mais palavras, textos maiores e até aparenta não ser preciso saber cantar. Comecei a escrever umas letras ( a minha mãe via, riscava as asneiras e punha outras palavras) e as minhas primeiras batidas foram feitas só com um órgão e uma caixa de ritmos. Punha uma banana na melodia e outra na batida e foi assim que gravei as primeiras cassetes. O que eu gostava de dizer a todos é que não podemos ficar parados. Não podemos desistir, não podemos deixar de ir aos ensaios.
Sam The Kid foi o primeiro a falar mas não foi o único a dizer que é preciso apostar e continuar.
Todos falaram da influência americana e da estranheza inicial de escrever e cantar em português mas todos disseram que o essencial era pôr cá fora o que vai na alma.
- Eu canto que tenho cá dentro, o que trago no peito.
MC Zipas falou e a sala desabou em palmas, coisa que se repetiu sempre que os outros partilharam a sua verdade, a sua liberdade e a sua realidade.
- O Hip Hop individualiza o meu interior, é aquilo que tiro do meu coração e é também a minha dor. É o que estou a viver naquele momento.
À medida em que iam falando, Deana Barroqueiro, professora de português, ia pontuando o discurso com questões e interrogações sobre a língua. Inspirada e divertida, falou sobre influências e origens tão antigas como a poesia das cantigas de escárnio e mal-dizer.
- Eram letras menos bonitas do que as cantigas de amor e usavam palavrões com muita força mas foram também elas que nos deram a conhecer a vida da época medieval.Daqui a muitos anos, quando todos formos pó, o Hip Hop vai dizer como se vivia nestes bairros e como era a nossa cultura urbana.